10) O assassinato de Ronny Chasen
Considerada uma das mais influentes figuras de Hollywood durante a acirrada temporada de premiações, a veterana divulgadora Ronny Chasen praticamente se tornou vítima de um típico filme de Alfred Hitchcock. Em Los Angeles, após conferir a première de “Burlesque”, no dia 15 de novembro, a relações públicas voltava para casa em seu suntuoso Mercedes preto rumo a Westwood, localizado no condado de Beverly Hills, quando, durante a silenciosa madrugada, cinco tiros cravaram seu peito e o carro da estrategista foi encontrado colidido a um poste de luz. Alguns moradores da famosa Sunset Boulevard – onde ocorreu o homicídio – chamaram socorro, mas, inconsciente, Chasen não resistiu aos ferimentos e morreu a caminho do hospital. O mistério envolto a este assassinato é absoluto. A polícia prossegue com as investigações, mas ainda não foram levantados suspeitos, sabe-se apenas que este foi um caso premeditado, excluindo qualquer possibilidade de uma discussão no trânsito ou algo semelhante. A pergunta que fica é: por que e quem encomendaria a morte de uma profissional de marketing especializada em cinema em pleno início da Corrida pelo Ouro?
9) Sandra Bullock vai ao Razzies
Alguns consideraram um absurdo, mas quem acompanha a corrida e as discussões no fórum do site oficial do Framboesa de Ouro sabe que Bullock era franca favorita ao prêmio de Pior Atriz pela tragédia grega “Maluca Paixão”. A única que fazia concorrência a ela era Megan Fox, duplamente indicada por “Transformers: A Vingança dos Derrotados” e “Garota Infernal”. Os envelopes do Razzies foram abertos tradicionalmente um dia antes do Oscar e os membros concederam a Sandra Bullock o título de Pior Atriz do ano. A comediante foi pessoalmente receber a “estatueta” pelo seu desempenho medíocre no filme de Phil Traill e, levando o “reconhecimento” na esportiva, fez um discurso engraçado – mais que o próprio filme –, levando o roteiro para ler junto ao público que assistia à cerimônia e trazendo em uma carriola DVDs de “Maluca Paixão” para distribuir aos presentes na festa. Curioso que no dia seguinte, Bullock seria agraciada com um Oscar de Melhor Atriz pelo filme “Um Sonho Possível”. Abaixo, o vídeo de “agradecimento” de Sandra Bullock na cerimônia do Framboesa de Ouro.
8) A ‘infelicidade’ de Arnaldo Jabor
Depois de mais de 20 anos sem filmar, dedicando-se exclusivamente às atividades jornalísticas, o polêmico Arnaldo Jabor quebra o jejum cinematográfico e lança “A Suprema Felicidade”, filme semi-autobiográfico que reúne algumas passagens e experiências de vida do autor em fases diferentes, desde a infância até a juventude. Com grande expectativa sobre o retorno de Jabor ao cinema, o filme acabou dividindo a crítica especializada. Enquanto o bonequinho do O Globo aplaudiu em pé, tantos outros desceram o sarrafo na última aventura do cineasta/jornalista nas telonas. Visto o insucesso com os críticos brasileiros, Jabor dedicou seu espaço no O Estado de São Paulo – que, claro, concedeu 4 estrelas ao filme – para desmoralizar os atuais profissionais da área e classificá-los como uma “patrulha pop” ignorante e rancorosa. Parte de sua coluna foi direcionada a Eduardo Escorel – irmão de Lauro Escorel, diretor de fotografia do filme –, que criticou negativamente “A Suprema Felicidade” para a revista Piauí. Arnaldo Jabor tinha todo o direito de resposta ao sair em defesa de seu “filho”, mas o mesmo se revela um imbecil por escrever um artigo reacionário, presunçoso, prepotente e tão desnecessário quanto o seu filme.
7) O fogo contra fogo dos bons companheiros
A sétima posição não representa necessariamente um “evento”, mas a notícia deixou cinéfilos de todo o mundo com o coração palpitando quando souberam da reunião de duas figuras importantíssimas, cuja parceria rendeu obras-primas incontestáveis na história do cinema. Martin Scorsese e Robert De Niro are back, bitches! O reencontro será no filme “The Irishman”, que se encontra em fase de financiamento e tem previsão de início das filmagens já no primeiro semestre de 2011. Como se não bastasse Scorsese e De Niro juntos novamente, foram confirmadas as presenças de outros dois atores que fizeram fama e obteram reconhecimento por trabalharem com “Scorsa” no passado: os talentosos Joe Pesci e Harvey Keitel. Além do quarteto fantástico, a inclusão de Al Pacino no elenco também foi decisivo para posicionar o anúncio dessa junção de feras nesta Cinelista dos maiores destaques do ano. As expectativas estão nas alturas. Só esperamos que “The Irishman”, escrito pelo oscarizado Steve Zaillian, esteja mais para “Fogo Contra Fogo” do que para “As Duas Faces da Lei”. Mas com Scorsese na condução, eu não tenho dúvidas de que Michael Mann terá um rival à altura.
6) O desânimo dos principais festivais
Atualmente, Berlim, Cannes e Veneza representam a divina trindade dos festivais de cinema. O calendário dos mais representativos eventos cinematográficos dá a largada em fevereiro, com a congelada semana da Berlinale. A segunda quinzena de maio é o tradicional período em que a Croisette fica pequena diante de tanto talento no conceituado Festival de Cannes. Por fim, Veneza encerra a entrega dos objetos “de ouro” – urso, palma e leão –, geralmente em setembro. Presidido pelos diretores Werner Herzog, Tim Burton e Quentin Tarantino, respectivamente, as escolhas dos principais vencedores das edições deste ano não foram aprovadas pela maioria dos críticos, além de terem sido massivamente criticadas pelo público presente, que apontaram outras produções mais merecedoras de prêmios e presentes na seleção oficial. Considerado inexpressivo e decepcionante – a julgar pelo resultado final –, definitivamente, 2010 não foi um ano de prestígio em se tratando dos (mais aguardados e queridos) festivais. “Um Doce Olhar” – vencedor em Berlim – já foi lançado nos cinemas brasileiros. Resta conferir “Tio Boonme, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” (Cannes) e “Um Lugar Qualquer” (Berlim) para constatar se o ouro foi mesmo parar em mãos erradas.
5) Jô Soares entrevista Francis Ford Coppola
Vergonha é pouco. Abra um vinho e aperte o play rs.
4) Kathryn Bigelow rompe com suposto “machismo” da Academia
Acima do marketing extraordinário que antecipou sua vitória no Oscar, a norte-americana Kathryn Bigelow foi consagrada com a estatueta dourada, sobretudo, por merecimento, tornando-se a primeira diretora a ser reconhecida nesta categoria. Uma das curiosidades de sua nomeação é que um dos seus concorrentes foi seu ex-marido, James Cameron, diretor de “Avatar”, com quem manteve um relacionamento de quase dois anos. Muitos veículos afirmaram que a Academia é machista neste sentido, tendo indicado apenas 4 diretoras em todos esses 82 anos de premiação – as demais foram Lina Wertmüller por “Pasqualino Sete Belezas” (1977), Jane Campion por “O Piano” (1993) e Sofia Coppola por “Encontros e Desencontros” (2004) –, mas não observo dessa forma, visto a quantidade desproporcional e majoritária de homens nessa função. Premiada pelo seu soberbo trabalho de condução pelo pungente e corajoso “Guerra ao Terror”, Bigelow faz história no cinema e abre caminho para a classe feminina de cineastas ser mais reconhecida pelos seus esforços. Mais do que a premiação de uma mulher, a vitória da diretora representa um avanço em muitos sentidos, incluindo artístico.
3) “Avatar” e sua bilheteria de outro planeta
O filme é de 2009, mas sua grande conquista em termos monetários foi alcançada em 2010, mais precisamente na última semana de janeiro. A ficção-científica futurista “Avatar” superou o faturamento nas bilheterias do romance “Titanic” e quebrou recordes mundiais, arrecadando até essa data, “modestos” US$ 1,85 bilhões. Mas não parou por aí. O filme ficou em cartaz nas salas de exibições ainda por muitos meses em todo mundo, tamanho popularidade entre o público, o que se revelou um verdadeiro fenômeno. No total, segundo o site Mojo, “Avatar” arrecadou nas bilheterias worldwide em torno de US$ 2,7 bilhões. Nada mal para um filme que custou US$ 500 milhões, sendo 40% do orçamento direcionados a campanhas publicitárias. A tecnologia 3D, com que “Avatar” foi concebido originalmente e foi até uma técnica bem popular em 2010, ajudou nos resultados expressivos de faturamento, mas não foi o único fator – talvez o principal. Todo o mundo ficou encantado – ao menos, curioso – com os Na’vis e o universo místico de Pandora e, para alguns espectadores, foi uma experiência inesquecível. Superar “Avatar” nas bilheterias vai ser um trabalho difícil, talvez só o próximo filme em 3D do próprio James Cameron.
2) O corajoso cinema iraniano
Não apenas entretenimento e arte, mas o cinema também pode ser usado como uma poderosa ferramenta de denúncia dos mais diversos âmbitos. Não é de hoje que bravos cineastas do Irã filmam projetos de forte cunho político-social, que mesmo sem explicitar mensagens direcionadas, suscitam a dúvida de uma crítica ferrenha ao método de governo vigente do país. Seguindo os passos do neoditador da Venezuela, Hugo Chávez, o atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, determinou a censura de diversos filmes iranianos que são considerados subversivos, pois se posicionam contrários à ditadura que o reacionário Ahmadinejad está instaurando na nação. Abaixo, um vídeo do cineasta Bahman Ghobadi, diretor de excelentes filmes como “O Círculo” e “Tartarugas Podem Voar”, incentiva os internautas a baixarem gratuitamente sua última produção, “Ninguém Sabe dos Gatos Persas”, que retrata a repressão no Irã e foi proibida sua exibição nos cinemas do país.
“Olá, meu querido povo iraniano. Aqui é Bahman Ghobadi, diretor deste filme, ‘Ninguém Sabe dos Gatos Persas’. Estou muito orgulhoso de que você possa assistir ao meu filme sem pagar nada (...) No Irã nossos filmes são proibidos de serem exibidos nos cinemas. Então assista! E peço duas coisas: primeiro, assista em grandes monitores com boa qualidade de som; segundo: se você conhece alguém que, como os jovens do filme, trabalha com música underground, ajude-o(a). Essas pessoas trabalham numa situação difícil no Irã, sem nenhuma ajuda do governo ou outras organizações. O futuro do Irã está na mão desses jovens e de outros artistas”.
O caso Jafar Panahi
No início do ano, o cineasta iraniano Jafar Panahi foi condenado à prisão, acusado pelo seu alinhamento político contrário ao regime e por ter ligações diretas com grupos de oposição. O diretor integraria o corpo do júri do Festival de Cannes deste ano, mas não poderia estar presente por conta da prisão decretada. Panahi foi libertado por pressão da imprensa e por petições que incluía o nome de pessoas influentes no meio cinematográfico, e também pela anunciada greve de fome que começou por protesto à sua sentença sem cabimento. A atriz francesa Juliette Binoche, que ilustrou o cartaz do Festival e se consagrou com o prêmio de Melhor Atriz pelo filme do também iraniano Abbas Kiarostami, “Cópia Fiel”, até chorou em uma coletiva de imprensa quando uma jornalista citou esse ato do cineasta enclausurado, registrado no vídeo abaixo. Enfim, tudo em vão. Na última semana, a corte iraniana determinou seis anos de prisão a Jafar Panahi e o proibiu de trabalhar com cinema nos próximos 20 anos (!!!!) pelos mesmos motivos. A pergunta é: até quando essa palhaçada vai durar?
1) O novo recorde do cinema nacional
Há 34 anos, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, adaptação para as telonas do clássico romance de Jorge Amado, dirigido pelo então estreante Bruno Barreto, detinha a maior bilheteria de um filme nacional nos cinemas brasileiros. Os números de arrecadação do filme são imprecisos, mas o registro de quantos espectadores assistiram ao filme nos cinemas, em 1976, é de 10.735.524 pessoas. O recorde, no entanto, foi quebrado por uma turma osso duro de roer. Além de se tornar o filme brasileiro de maior sucesso, “Tropa de Elite 2” confirmou ser o filme mais assistido de todos os tempos em terras tupiniquins, arrastando, até hoje, 11.081.199 curiosos para conferir a guerra travada pelo famoso Capitão Nascimento, interpretado pelo ator Wagner Moura. Há, no entanto, muitos fatores que devem ser considerados para repensar o cálculo, como o aumento da população – de 110 milhões para 150 milhões –, assim como a diminuição significativa de salas exibidoras de cinema. “Tropa de Elite 2” arrecadou até o momento mais de R$ 102 milhões, mas além da repercussão no faturamento, José Padilha cumpriu a missão que lhe fora dada e entregou um filme urgente, reflexivo e dos mais importantes realizados por este país. Não apenas um fenômeno popular; pessoalmente, considero “Tropa de Elite 2” um dos melhores filmes de 2010 e da nossa cinematografia.
Desejo a todos os leitores, uma excelente virada de ano e que 2011 seja um ano repleto de realizações, conquistas e, principalmente, expectativas. Grande abraço a todos!