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31 de dez. de 2010

Cinelista: 10 fatos que marcaram o cinema em 2010


10) O assassinato de Ronny Chasen




Considerada uma das mais influentes figuras de Hollywood durante a acirrada temporada de premiações, a veterana divulgadora Ronny Chasen praticamente se tornou vítima de um típico filme de Alfred Hitchcock. Em Los Angeles, após conferir a première de “Burlesque”, no dia 15 de novembro, a relações públicas voltava para casa em seu suntuoso Mercedes preto rumo a Westwood, localizado no condado de Beverly Hills, quando, durante a silenciosa madrugada, cinco tiros cravaram seu peito e o carro da estrategista foi encontrado colidido a um poste de luz. Alguns moradores da famosa Sunset Boulevard – onde ocorreu o homicídio – chamaram socorro, mas, inconsciente, Chasen não resistiu aos ferimentos e morreu a caminho do hospital. O mistério envolto a este assassinato é absoluto. A polícia prossegue com as investigações, mas ainda não foram levantados suspeitos, sabe-se apenas que este foi um caso premeditado, excluindo qualquer possibilidade de uma discussão no trânsito ou algo semelhante. A pergunta que fica é: por que e quem encomendaria a morte de uma profissional de marketing especializada em cinema em pleno início da Corrida pelo Ouro?


9) Sandra Bullock vai ao Razzies

Alguns consideraram um absurdo, mas quem acompanha a corrida e as discussões no fórum do site oficial do Framboesa de Ouro sabe que Bullock era franca favorita ao prêmio de Pior Atriz pela tragédia grega “Maluca Paixão”. A única que fazia concorrência a ela era Megan Fox, duplamente indicada por “Transformers: A Vingança dos Derrotados” e “Garota Infernal”. Os envelopes do Razzies foram abertos tradicionalmente um dia antes do Oscar e os membros concederam a Sandra Bullock o título de Pior Atriz do ano. A comediante foi pessoalmente receber a “estatueta” pelo seu desempenho medíocre no filme de Phil Traill e, levando o “reconhecimento” na esportiva, fez um discurso engraçado – mais que o próprio filme –, levando o roteiro para ler junto ao público que assistia à cerimônia e trazendo em uma carriola DVDs de “Maluca Paixão” para distribuir aos presentes na festa. Curioso que no dia seguinte, Bullock seria agraciada com um Oscar de Melhor Atriz pelo filme “Um Sonho Possível”. Abaixo, o vídeo de “agradecimento” de Sandra Bullock na cerimônia do Framboesa de Ouro.




8) A ‘infelicidade’ de Arnaldo Jabor



Depois de mais de 20 anos sem filmar, dedicando-se exclusivamente às atividades jornalísticas, o polêmico Arnaldo Jabor quebra o jejum cinematográfico e lança “A Suprema Felicidade”, filme semi-autobiográfico que reúne algumas passagens e experiências de vida do autor em fases diferentes, desde a infância até a juventude. Com grande expectativa sobre o retorno de Jabor ao cinema, o filme acabou dividindo a crítica especializada. Enquanto o bonequinho do O Globo aplaudiu em pé, tantos outros desceram o sarrafo na última aventura do cineasta/jornalista nas telonas. Visto o insucesso com os críticos brasileiros, Jabor dedicou seu espaço no O Estado de São Paulo – que, claro, concedeu 4 estrelas ao filme – para desmoralizar os atuais profissionais da área e classificá-los como uma “patrulha pop” ignorante e rancorosa. Parte de sua coluna foi direcionada a Eduardo Escorel – irmão de Lauro Escorel, diretor de fotografia do filme –, que criticou negativamente “A Suprema Felicidade” para a revista Piauí. Arnaldo Jabor tinha todo o direito de resposta ao sair em defesa de seu “filho”, mas o mesmo se revela um imbecil por escrever um artigo reacionário, presunçoso, prepotente e tão desnecessário quanto o seu filme.


7) O fogo contra fogo dos bons companheiros



A sétima posição não representa necessariamente um “evento”, mas a notícia deixou cinéfilos de todo o mundo com o coração palpitando quando souberam da reunião de duas figuras importantíssimas, cuja parceria rendeu obras-primas incontestáveis na história do cinema. Martin Scorsese e Robert De Niro are back, bitches! O reencontro será no filme “The Irishman”, que se encontra em fase de financiamento e tem previsão de início das filmagens já no primeiro semestre de 2011. Como se não bastasse Scorsese e De Niro juntos novamente, foram confirmadas as presenças de outros dois atores que fizeram fama e obteram reconhecimento por trabalharem com “Scorsa” no passado: os talentosos Joe Pesci e Harvey Keitel. Além do quarteto fantástico, a inclusão de Al Pacino no elenco também foi decisivo para posicionar o anúncio dessa junção de feras nesta Cinelista dos maiores destaques do ano. As expectativas estão nas alturas. Só esperamos que “The Irishman”, escrito pelo oscarizado Steve Zaillian, esteja mais para “Fogo Contra Fogo” do que para “As Duas Faces da Lei”. Mas com Scorsese na condução, eu não tenho dúvidas de que Michael Mann terá um rival à altura.


6) O desânimo dos principais festivais



Atualmente, Berlim, Cannes e Veneza representam a divina trindade dos festivais de cinema. O calendário dos mais representativos eventos cinematográficos dá a largada em fevereiro, com a congelada semana da Berlinale. A segunda quinzena de maio é o tradicional período em que a Croisette fica pequena diante de tanto talento no conceituado Festival de Cannes. Por fim, Veneza encerra a entrega dos objetos “de ouro” – urso, palma e leão –, geralmente em setembro. Presidido pelos diretores Werner Herzog, Tim Burton e Quentin Tarantino, respectivamente, as escolhas dos principais vencedores das edições deste ano não foram aprovadas pela maioria dos críticos, além de terem sido massivamente criticadas pelo público presente, que apontaram outras produções mais merecedoras de prêmios e presentes na seleção oficial. Considerado inexpressivo e decepcionante – a julgar pelo resultado final –, definitivamente, 2010 não foi um ano de prestígio em se tratando dos (mais aguardados e queridos) festivais. “Um Doce Olhar” – vencedor em Berlim – já foi lançado nos cinemas brasileiros. Resta conferir “Tio Boonme, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” (Cannes) e “Um Lugar Qualquer” (Berlim) para constatar se o ouro foi mesmo parar em mãos erradas.


5) Jô Soares entrevista Francis Ford Coppola


Vergonha é pouco. Abra um vinho e aperte o play rs.




4) Kathryn Bigelow rompe com suposto “machismo” da Academia



Acima do marketing extraordinário que antecipou sua vitória no Oscar, a norte-americana Kathryn Bigelow foi consagrada com a estatueta dourada, sobretudo, por merecimento, tornando-se a primeira diretora a ser reconhecida nesta categoria. Uma das curiosidades de sua nomeação é que um dos seus concorrentes foi seu ex-marido, James Cameron, diretor de “Avatar”, com quem manteve um relacionamento de quase dois anos. Muitos veículos afirmaram que a Academia é machista neste sentido, tendo indicado apenas 4 diretoras em todos esses 82 anos de premiação – as demais foram Lina Wertmüller por “Pasqualino Sete Belezas” (1977), Jane Campion por “O Piano” (1993) e Sofia Coppola por “Encontros e Desencontros” (2004) –, mas não observo dessa forma, visto a quantidade desproporcional e majoritária de homens nessa função. Premiada pelo seu soberbo trabalho de condução pelo pungente e corajoso “Guerra ao Terror”, Bigelow faz história no cinema e abre caminho para a classe feminina de cineastas ser mais reconhecida pelos seus esforços. Mais do que a premiação de uma mulher, a vitória da diretora representa um avanço em muitos sentidos, incluindo artístico.


3) “Avatar” e sua bilheteria de outro planeta



O filme é de 2009, mas sua grande conquista em termos monetários foi alcançada em 2010, mais precisamente na última semana de janeiro. A ficção-científica futurista “Avatar” superou o faturamento nas bilheterias do romance “Titanic” e quebrou recordes mundiais, arrecadando até essa data, “modestos” US$ 1,85 bilhões. Mas não parou por aí. O filme ficou em cartaz nas salas de exibições ainda por muitos meses em todo mundo, tamanho popularidade entre o público, o que se revelou um verdadeiro fenômeno. No total, segundo o site Mojo, “Avatar” arrecadou nas bilheterias worldwide em torno de US$ 2,7 bilhões. Nada mal para um filme que custou US$ 500 milhões, sendo 40% do orçamento direcionados a campanhas publicitárias. A tecnologia 3D, com que “Avatar” foi concebido originalmente e foi até uma técnica bem popular em 2010, ajudou nos resultados expressivos de faturamento, mas não foi o único fator – talvez o principal. Todo o mundo ficou encantado – ao menos, curioso – com os Na’vis e o universo místico de Pandora e, para alguns espectadores, foi uma experiência inesquecível. Superar “Avatar” nas bilheterias vai ser um trabalho difícil, talvez só o próximo filme em 3D do próprio James Cameron.


2) O corajoso cinema iraniano

Não apenas entretenimento e arte, mas o cinema também pode ser usado como uma poderosa ferramenta de denúncia dos mais diversos âmbitos. Não é de hoje que bravos cineastas do Irã filmam projetos de forte cunho político-social, que mesmo sem explicitar mensagens direcionadas, suscitam a dúvida de uma crítica ferrenha ao método de governo vigente do país. Seguindo os passos do neoditador da Venezuela, Hugo Chávez, o atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, determinou a censura de diversos filmes iranianos que são considerados subversivos, pois se posicionam contrários à ditadura que o reacionário Ahmadinejad está instaurando na nação. Abaixo, um vídeo do cineasta Bahman Ghobadi, diretor de excelentes filmes como “O Círculo” e “Tartarugas Podem Voar”, incentiva os internautas a baixarem gratuitamente sua última produção, “Ninguém Sabe dos Gatos Persas”, que retrata a repressão no Irã e foi proibida sua exibição nos cinemas do país.



“Olá, meu querido povo iraniano. Aqui é Bahman Ghobadi, diretor deste filme, ‘Ninguém Sabe dos Gatos Persas’. Estou muito orgulhoso de que você possa assistir ao meu filme sem pagar nada (...) No Irã nossos filmes são proibidos de serem exibidos nos cinemas. Então assista! E peço duas coisas: primeiro, assista em grandes monitores com boa qualidade de som; segundo: se você conhece alguém que, como os jovens do filme, trabalha com música underground, ajude-o(a). Essas pessoas trabalham numa situação difícil no Irã, sem nenhuma ajuda do governo ou outras organizações. O futuro do Irã está na mão desses jovens e de outros artistas”.

O caso Jafar Panahi

No início do ano, o cineasta iraniano Jafar Panahi foi condenado à prisão, acusado pelo seu alinhamento político contrário ao regime e por ter ligações diretas com grupos de oposição. O diretor integraria o corpo do júri do Festival de Cannes deste ano, mas não poderia estar presente por conta da prisão decretada. Panahi foi libertado por pressão da imprensa e por petições que incluía o nome de pessoas influentes no meio cinematográfico, e também pela anunciada greve de fome que começou por protesto à sua sentença sem cabimento. A atriz francesa Juliette Binoche, que ilustrou o cartaz do Festival e se consagrou com o prêmio de Melhor Atriz pelo filme do também iraniano Abbas Kiarostami, “Cópia Fiel”, até chorou em uma coletiva de imprensa quando uma jornalista citou esse ato do cineasta enclausurado, registrado no vídeo abaixo. Enfim, tudo em vão. Na última semana, a corte iraniana determinou seis anos de prisão a Jafar Panahi e o proibiu de trabalhar com cinema nos próximos 20 anos (!!!!) pelos mesmos motivos. A pergunta é: até quando essa palhaçada vai durar?




1) O novo recorde do cinema nacional

Há 34 anos, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, adaptação para as telonas do clássico romance de Jorge Amado, dirigido pelo então estreante Bruno Barreto, detinha a maior bilheteria de um filme nacional nos cinemas brasileiros. Os números de arrecadação do filme são imprecisos, mas o registro de quantos espectadores assistiram ao filme nos cinemas, em 1976, é de 10.735.524 pessoas. O recorde, no entanto, foi quebrado por uma turma osso duro de roer. Além de se tornar o filme brasileiro de maior sucesso, “Tropa de Elite 2” confirmou ser o filme mais assistido de todos os tempos em terras tupiniquins, arrastando, até hoje, 11.081.199 curiosos para conferir a guerra travada pelo famoso Capitão Nascimento, interpretado pelo ator Wagner Moura. Há, no entanto, muitos fatores que devem ser considerados para repensar o cálculo, como o aumento da população – de 110 milhões para 150 milhões –, assim como a diminuição significativa de salas exibidoras de cinema. “Tropa de Elite 2” arrecadou até o momento mais de R$ 102 milhões, mas além da repercussão no faturamento, José Padilha cumpriu a missão que lhe fora dada e entregou um filme urgente, reflexivo e dos mais importantes realizados por este país. Não apenas um fenômeno popular; pessoalmente, considero “Tropa de Elite 2” um dos melhores filmes de 2010 e da nossa cinematografia.



Desejo a todos os leitores, uma excelente virada de ano e que 2011 seja um ano repleto de realizações, conquistas e, principalmente, expectativas. Grande abraço a todos!

28 de dez. de 2010

Gente Grande


Não é novidade pra ninguém o fato de que alguns diretores, por proximidade e admiração, escalam com frequência determinados atores para integrarem o elenco de seus filmes, preferencialmente assumindo o papel principal da história. Diversas parcerias renderam filmes inesquecíveis, além de terem construído perfis de identificação marcantes de acordo com os estilos, hábitos e outros aspectos de cada profissional. Dentre grandes nomes como Federico Fellini ao lado de Marcello Mastroianni ou Alfred Hitchcock com Cary Grant, há também Dennis Dugan e Adam Sandler, responsáveis pelas maiores catástrofes em formato de “comédia” dos últimos anos. A dupla vem bombardeando o cinema com filmes medíocres, mas que, graças à popularidade do “comediante”, tornam-se sucessos instantâneos de bilheteria. A união começou em 1996 com o assistível “Um Maluco no Golfe”, seguido por comédias que trazem “lições de moral” como “O Paizão” e “Eu os Declaro Marido...e Larry!”, até chegarem ao mais baixo nível da vergonha alheia com o desprezível “Zohan – O Agente Bom de Corte”. Um dia, Sandler, muito gente boa, acordou e resolveu prestar um favor para os amigos sem graça como ele, mas que não dividem o mesmo prestígio do público. Elencou outros quatro atores decadentes, escreveu um roteiro baseado em piadas sobre flatulência, obesidade, mulheres gostosas e homossexuais e defecou “Gente Grande”, mais uma atrocidade que leva o selo Happy Madison – produtora do ator – nos créditos.

Roteirizado por Sandler ao lado de Fred Wolf – cujo currículo no cinema é preenchido apenas por comédias retardadas como esta –, “Gente Grande” começa com um acirrado jogo de basquete entre crianças de 12 anos. Com a arquibancada lotada assistindo à partida, o time vencedor foi o comandado pelo treinador Buzina (Clark), que cheio de orgulho, depois leva a equipe campeã para comemorar a vitória em uma lanchonete. Trinta anos se passaram, e é a morte do coach que acaba reunindo os antigos amigos, agora casados, com filhos, mas com o mesmo “espírito infantil”. Lenny (Sandler), Eric (James), Kurt (Rock), Marcus (Spade) e Rob (Schneider) se reencontram para velar o corpo do antigo companheiro e resolvem passar um final de semana com a família em uma casa de campo que costumavam se encontrar quando eram mais jovens.

É até difícil enumerar a quantidade de defeitos do filme, porque basicamente pouca coisa se salva dessa tragédia grega. Dugan já disse, certa vez, que a público-alvo de seus trabalhos não vai ao cinema em busca de uma mensagem, vão com o único objetivo de dar boas risadas. Tudo bem. Todo mundo precisa assistir a filmes como puro entretenimento, apenas para se divertir, mas “Gente Grande” é debochado ao extremo, não tem qualidade cômica, sequer apresenta a menor preocupação com a narrativa, que só funciona como pretexto para ostentar piadas gratuitas e desconexas. E, nesse sentido, o filme não desperdiça um frame. Até em cenas que exigiam o mínimo grau de sensibilidade, como o próprio funeral do tal treinador, Sandler converte tudo em um stand up comedy dos mais absurdos, levando as pessoas que compareceram à igreja a darem gargalhadas em pleno velório (!). Como ficam os familiares do morto? Onde fica o respeito pela pessoa pelo qual nutriam tanta consideração como os personagens diziam?

Sem dirigir um filme que preste em toda sua ridícula filmografia, Dennis Dugan comprova ser um dos piores diretores em atividade. A preguiça do diretor não imprime identidade em nenhuma cena e sua falta de conhecimento cinematográfico resulta em ângulos totalmente óbvios e outros deslocados. Como se não bastasse, desperdiça grandes chances de não transformar “Gente Grande” na tortura que é, ao menos estabelecendo algumas transações mais elegantes, como no jogo de basquete final – um coisa meio “Doze é Demais 2” – e em tantos momentos amadores e gritantes em sua arbitrariedade. Em suma, é um conglomerado de cenas estúpidas, que submetem os atores a situações vexaminosas, como é o caso da eficiente Maria Bello, que passa boa parte do filme dando de mamar ao filho de 4 anos (!!!).



Os atores são uma fraude. Adam Sandler interpreta sempre o mesmo tipo de cara despreocupado, com piadinhas que denigrem a imagem de outra pessoa, mas com um coração que não lhe cabe no peito (ah vá!). Rob Schneider faz hora extra, Kevin James e Chris Rock só estão para fazer volume à equipe, e o personagem de David Spade, o único solteiro entre os cinco, perde uma grande chance de fazer piadas mais inspiradas, o que acaba se revelando posteriormente o mais idiota e irritante entre eles – e isso não é pouca coisa. É de se esperar uma desgraça retumbante com um elenco como esse, mas o que me deixa mais frustrado em “Gente Grande” é o envolvimento de atrizes talentosas em papeis dignos de uma Jennifer Coolidge da vida. Bello, já citada, e Maya Rudolph até que driblam as péssimas personagens que interpretam, mas quem “surpreende” e entrega a pior atuação do filme é a mexicana Salma Hayek Pinault, pois é notório o esforço frustrado da atriz em fazer a plateia rir, o que acaba só reforçando suas limitações como comediante.

Mas o roteiro também não colabora. No caso de Hayek, tem uma cena específica que ela deve deixar o local para viajar a negócios, mas antes de pegar o voo, junta-se às crianças para atirar pedras e fazê-las quicarem em um riacho. Após perceber que perdeu essa habilidade, Hayek chega ao marido e pede para cancelar sua passagem porque “vai demorar alguns dias para reaprender” (!). E nem sequer o roteiro a mostra treinando jogar a maldita pedra no rio novamente! E que tipo de profissional deixa de viajar para um compromisso no exterior para recuperar a técnica de atirar pedras na água estilo patinho?! Está aí uma das milhares de saídas criadas pela mente fértil dos roteiristas, que ao lado da incapacidade do diretor em criar uma cena no mínimo interessante ou meramente engraçada, entrega uma das maiores bombas do ano, mas também um dos filmes mais assistidos nos cinemas em 2010 – inexplicáveis US$ 162 milhões arrecadados.

“Gente Grande” não parece cinema. Está mais para uma (das várias) campanha publicitária para promover a figura de Adam Sandler, um cara bacana, engraçado, que trabalha em Hollywood e consegue tirar o sutiã de Salma Hayek logo no primeiro encontro, joga basquete melhor do que Michael Jordan e dá piruetas extraordinárias em um cabo de tirolesa. Desta vez, o ator resolveu fazer uma boa ação e dar uma guinada na figuração pública de seus amigos, que parecem não estarem recebendo propostas de trabalho tão boas para aceitarem participar de uma merda como esta, mas enfim, também parece ser o máximo que estes atores são capazes de fazer.


NOTA: zero

GENTE GRANDE (Grown Ups) EUA, 2010
Direção: Dennis Dugan
Roteiro: Adam Sandler e Fred Wolf
Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Chris Rock, David Spade, Rob Schneider, Salma Hayek Pinault, Maria Bello e Maya Rudolph

26 de dez. de 2010

A Fita Branca


Mestre em retratar os instintos mais obscuros do ser humano, o austríaco Michael Haneke construiu sua carreira no cinema com filmes polêmicos que traçam estudos cruéis sobre comportamento humano atrelados a situações adversas e temas considerados (por muitos) tabus no mundo contemporâneo. Restringindo os comentários aos mais recentes, “A Professora de Piano” (2001) discute a impossibilidade do afeto dos personagens, cujos encontros predominam a perversidade sexual; “Caché”, de 2005, é um poderoso filme sobre a manipulação da imagem e uma história tensa de vingança, que foge completamente das convenções do gênero; e seu projeto mais catártico, “Violência Gratuita” – original de 1997, que ganhou um inexplicável remake em 2007 pelas mãos do próprio diretor –, um filme repulsivo que propõem um “jogo de resistência” com o espectador e prova, no final das contas, sua passividade frente aos atos de barbaridade. São obras(-primas) provocadoras, desconcertantes e que cutucam a ferida de quem assiste. Não muito distante dessas qualidades também está o seu último filme, “A Fita Branca”, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 2009.

Concebida pelo próprio Haneke, a história é ambientada em uma aldeia protestante alemã, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, onde perversos incidentes acabam preocupando os moradores. Como todos se conhecem e, aparentemente, não sustentam inimizades com os vilarejos vizinhos, os habitantes aceitam com estranheza esses eventos violentos, que ganham maior dimensão e periodicidade, envolvendo pessoas que desempenham funções importantes no local – ou próximas a elas –, como o Barão, o doutor, a única parteira da região, dentre outros. “A Fita Branca” é sustentado por várias subtramas que mostram as reações dos habitantes perante esses acontecimentos sinistros, sendo qualquer um acusado de ser o causador da desordem, como também a próxima vítima.

Porém, mais do que indicar os possíveis autor(es) das brincadeiras macabras à medida que o enredo avança, o filme se preocupa em fazer uma interessante investigação sobre a gênese do mal, remetendo claramente aos eventos duvidosos do pequeno povoado em diálogo com a origem do Nazismo, que infecctou a Alemanha a partir da década de 30. No entanto, muitos se limitam em classificar o projeto como um mero retrato dos antecedentes nazistas, considerando apenas o país em que se passa a trama, mas o filme vai além. “A Fita Branca” se apropria de um argumento que demonstra um dos vários caminhos que direcionam uma sociedade a patamares irreversíveis de opressão, fanatismo e alienação. A educação repressora com que os personagens adultos criam seus filhos são os principais indícios da nascença do autoritarismo naquele local, o que, consequentemente, decai sobre as crianças da aldeia a suspeita pela autoria dos atos de tortura como uma maneira de extravazar a rigidez paternal. Mas essa é apenas uma possibilidade e o flerte com a incerteza apenas enriquece a trama, que se revela um ótimo exercício de dialética.

Intercalado por momentos absolutamente acachapantes, a rispidez de determinadas cenas torna a sessão de “A Fita Branca” uma experiência perturbadora, que mergulhada em um preto-e-branco sombrio e característico à época, alimenta o grau de frieza e desconforto imperantes sobre a narrativa. Apontar apenas uma das cenas soa até injusto, mas aquela em que o garoto confessa ao pai pastor que tem desejos sexuais talvez seja um dos momentos mais tensos de toda a história, explicável porque estampa o cartaz de divulgação do filme. Mas esta cena específica rivaliza com tantas outras, como a do garotinho inocente que descobre as “causas” da morte durante o jantar ou aquela que ilustra um diálogo humilhante e assombroso entre o doutor e a parteira do vilarejo, outrora amantes. O espectador não é apresentado formalmente aos personagens que povoam “A Fita Branca”, mas cenas como estas dizem muito sobre cada um, mais do que muitos filmes que não dizem nada nem sobre o protagonista em seus 90 minutos de duração.



Recurso banalizado em inúmeros projetos como artifício para mastigar a história e torná-la mais compreensível ao espectador, a elegante narração em off de “A Fita Branca” desempenha papel importante, funcionando como catalisador da aura de mistério que alicerça o filme. E é com muito pouco que Haneke, exibindo seu já conhecido rigor técnico e precisão, transforma a pequena aldeia em um antro de maldade, inveja e indiferença. Violento, mas sem ser explícito, a força do filme reside na crueza dos diálogos, em conjunto com a solidez da câmera silenciosa e com um elenco majoritariamente composto por estreantes – sobretudo as crianças –, que assumem personagens desafiadores e rendem performances memoráveis.

Ainda contando com uma fotografia exuberante assinada pelo também austríaco Christian Berger – parceiro habitual de Haneke –, “A Fita Branca” é um filme que não dá respostas fáceis, por outro lado, oferece uma parábola contundente e reflexiva.


NOTA: 8,5


A FITA BRANCA (Das Weisse Band – Eine Deutsche Kindergeschichte) Alemanha, 2009
Direção e Roteiro: Michael Haneke
Elenco: Christian Friedel, Leonie Beneschi, Ulrich Tukur, Burghat Klaussner e Susanne Lothar

21 de dez. de 2010

Um Doce Olhar


“Um Doce Olhar” encerra a premiada trilogia comandada pelo diretor turco Semih Kaplanoglu, que discorre sobre diferentes fases da vida de um personagem chamado Yusuf, que, embora tenha o mesmo nome, não se trata, necessariamente, da mesma pessoa nos três filmes. Os dois primeiros são “Ovo”, lançado em 2007, que traz como protagonista um poeta e proprietário de uma livraria que retorna à cidade natal para velar o corpo da mãe; o segundo capítulo, de 2008, é “Leite”, acerca de um adolescente que não consegue aprovação no vestibular e sonha em escrever poesias. Inéditos comercialmente no Brasil, esses filmes conseguiram visibilidade por meio de exibições em festivais de cinema, onde conquistaram prêmios concorridos e estabeleceram o nome de Kaplanoglu como um autor de obras poéticas e que prezam pela sinceridade. Premiado com o Leão de Ouro no Festival de Berlim deste ano, “Um Doce Olhar” – “Mel” seria a tradução literal – reafirma o apuro visual empregado pelo diretor e o naturalismo das cenas, que, aqui, servem para ilustrar o processo de descobertas do jovem protagonista. Dessa forma, o diretor recusa qualquer artifício espetacular para tornar a fita narrativamente mais dramática, preferindo apenas apresentar, com franqueza e de forma sutil, as ansiedades e ambições de uma criança provinciana de 6 anos, o que converte automaticamente o espectador em um mero voyeur de cada reação espontânea do garoto frente às circunstâncias da vida.

No entanto, a despeito das qualidades inegáveis do longa, “Um Certo Olhar” é prejudicado pelo ritmo demasiadamente lento e pelo seu perfil absorto, que impede maior envolvimento emocionalmente por parte do espectador com a história. Escrito pelo próprio diretor em companhia do roteirista Orçun Köksal, o filme se concentra em Yusuf (Altas), um garoto de poucas palavras, introspectivo, que frequentemente sai para procurar lugares na floresta com o pai apicultor, Yakup (Besikçioglu), para fixar colméias e cultivar abelhas fabricantes de mel. Junto com a mãe (Özen), que cuida de uma lavoura de hortaliças, a família mora em uma região montanhosa no norte da Turquia, cenário onde o pequeno Yusuf começa a se relacionar com sentimentos desconhecidos.

A cena inicial é um ótimo convite para o espectador adentrar o universo lírico do filme, mas, infelizmente, essa comunicação se evapora com tantos momentos esteticamente bem construídos, mas isolados e que pouco têm a acrescentar para a narrativa. Rodado em locações externas admiráveis pela sua beleza natural, o diretor opta por imagens abertas e, geralmente, com a câmera estática a fim de explorar as belas paisagens do local, de onde também são extraídos os sons ambientes que compõem a trilha sonora do filme, como o vento uivando ou os pássaros a cantar. Entretanto, a preocupação de Kaplanoglu não se resume à plasticidade, pois essa opção de posicionamento também é interessante por subentender a mediocridade humana frente à imensidão da natureza, porém sem recorrer a mensagens panfletárias. Essa interpretação é possível durante os longos planos panorâmicos que captura o pequeno Yusuf e o meio ambiente que parece o engolir. Trata-se de um filme bucólico, em que a natureza assume um importante papel na história.

Muitos apontariam “Um Doce Olhar” como um típico “filme de festival”. Essa definição é discutível, mas que não chega a depreciar os méritos evidentes do projeto, cuja linguagem não é mesmo acessível a todos os públicos. Na verdade, não é um longa que exige muito do seu espectador, a não ser sensibilidade e paciência. É contemplativo e econômico, para ser observado e apreciado (quem conseguir) com afeição, já que se trata de um singelo filme sob a perspectiva infantil em diversos fatores da vida humana. Alguns podem se encantar com a ingenuidade do protagonista, mas outros podem torcer o nariz pela ausência de diálogos e afetação da história.



Representante da Turquia para o Oscar 2011, “Um Doce Olhar” é um filme delicado e interessante, mas que destoa completamente com algumas passagens deslocadas e, para balancear, é prejudicado pela paixão que sente por si próprio. É como dizem: mel faz bem, mas em excesso, enjoa.


NOTA: 6,5


UM DOCE OLHAR (Bal) Turquia, 2010
Direção: Semih Kaplanoglu
Roteiro: Semih Kaplanoglu e Orçun Köksal
Elenco: Bora Altas, Erdal Besikçioglu, Tülin Özen, Ayse Altay e Alev Uçarer

18 de dez. de 2010

Abutres


Enquanto assistia a “Abutres”, vários filmes começaram a pipocar na minha cabeça, porém nenhum deles, necessariamente, serve como parâmetro para fazer comparações concretas com a produção argentina, visto que tanto as propostas como as próprias histórias são bastante divergentes entre si. Mas não custa apontar algumas semelhanças. Um dos que me assaltou a mente foi “Amores Brutos”, grande filme mexicano que marcou a estreia do diretor Alejandro González Iñarritu no cinema. O grau de cotejo é bem tênue, confesso, mas a concepção visual de ambos e a eficiência como thriller urbano sombrio dialogam como nenhum outro. É uma experiência terrivelmente desagradável e perturbadora assistir a essas duas películas. Outro filme do qual me lembrei foi o oscarizado “Crash – No Limite”, apenas porque os dois projetos entregam uma ótima narrativa cíclica, que, coincidentemente, iniciam e finalizam suas histórias com os mesmos incidentes. Por fim, “Atração Perigosa”, última aventura de Ben Affleck como diretor. Tanto este como “Abutres” conciliam com astúcia subtramas completamente opostas, uma envolvendo o submundo do crime e a outra, um caso amoroso que se revelam estepes para os próprios personagens de caráter ambíguo se encontrarem. Além, claro, dos filmes serem ambientados em metrópoles onde a sensação de perigo é constante. “Abutres” é um interessante projeto que celebra o caos, usando a figura do trânsito para ilustrar sua denúncia, que dá até para fazer um paralelo com “Week End”, do Godard, mas acho bom parar por aqui com estes confrontos cinematográficos e discorrer sobre o filme em questão.

Após perder a licença da OAB, Sosa (Darín) se torna um advogado especialista em acidentes rodoviários, pois é este “ramo” que sustenta o mercado de indenizações, considerando os números expressivos de vítimas no trânsito da Argentina que o filme expõe logo em seus primeiros segundos de projeção. Trabalhando para uma agência afundada em corrupção, Sosa passa boa parte de seu tempo nas salas de espera de hospitais, nas delegacias e nas ruas da cidade procurando por clientes potenciais, vulgo, acidentados. Em uma de suas assistências a um motociclista ferido, ele conhece a médica Luján (Gusman), cujo desgastante expediente de trabalho a condena andar em uma ambulância pelas avenidas prestando socorro a casos de emergências. Quando Sosa se demite e passa a trabalhar por conta própria, os mafiosos da empresa corrupta o enxergam como um concorrente, e as ameaças para o advogado e à sua namorada colocam em risco a união do casal.

O diretor Pablo Trapero cria uma atmosfera realista muito pertinente para delinear o desenvolvimento da história. Expondo o conflito das situações acima de qualquer sintoma de misericórdia, Trapero se mostra mais preocupado com os problemas e adversidades que sustentam a trama, tanto que, a não ser quando estão juntos em momentos íntimos, acompanhamos os protagonistas sempre fatigados e claramente infelizes com a profissão que exercem, um deles recorrendo até a remédios injetados diretamente na veia para lhe dar disposição e continuar na ativa. São raros os momentos de respiros no filme, pois geralmente é acompanhado por um clima mórbido, propositalmente desconfortável. Conhecido pelos longos e chocantes planos-sequências que emprega em seus projetos – digo por “Família Rodante” e “Leonera”, os únicos do diretor dos quais assisti –, em “Abutres”, o cineasta também abusa dessa técnica, o que se revela uma opção inteligente por garantir maior dimensão de verossimilhança ao longa, que culmina em cenas com planos absolutamente fantásticos e doloridos, como os que se passam dentro do hospital e exploram a precariedade do ambiente ou a magistral sequência que encerra o filme, não recomendável para pessoas com insuficiência cardíaca.


Mas o impacto dessas cenas não seria integral se “Abutres” não contasse com uma equipe técnica composta por profissionais. A edição apurada e o soberbo design sonoro intensificam a tensão provocada pelo filme, tanto em momentos inesperados como outros que em que o espectador já prevê o que irá acontecer, mas, ainda assim, é surpreendido pela violência e crueza, elementos que o diretor Pablo Trapero não faz questão de ocultar. Este é mais um caso do cinema preocupado com os direitos humanos e com as questões sociais. “Abutres” é um filme visceral e reflexivo, que vai muito além do que lemos e assistimos nos jornais diários, mas evidencia outro ângulo de situações que estamos fartos de conferir nas páginas ou nos programas de TV.

O filme ainda reúne dois dos melhores atores argentinos em atividade. É impressionante a naturalidade com que Ricardo Darín encarna seus personagens, sempre com economia e coerência, não sendo à toa o ator mais prestigiado do país vizinho, merecendo mais créditos ainda por não se deixar seduzir por Hollywood, que já lhe fez propostas, mas ele negou todas. Bravo! E o filme também conta com a excelente Martina Gusman – esposa do diretor e produtora executiva do longa –, que dá um verdadeiro show de performance com sua Luján, uma mulher solitária e frágil, que acaba se envolvendo nesse submundo da lei por acaso e se desdobra, ao lado do amante, para driblar os criminosos.

Está aí mais um belo exemplar do cinema argentino, uma cinematografia que vem colecionando elogios festivais afora. Quanto às premiações, “Abutres” tem a ingrata missão de representar a Argentina no Oscar após a consagração de “O Segredo dos Seus Olhos” na cerimônia deste ano. Não cabe a eu fazer comparações, mas talvez seja uma tarefa difícil chegar até lá. Ao menos, à frente do Brasil, nesse sentido, a Argentina está posicionada, porque a carniça que foi a biografia do Lula, todos sabem, abutres comem e lambem o beiço.


NOTA: 8,0


ABUTRES (Carancho) Argentina, 2010
Direção: Pablo Trapero
Roteiro: Alejandro Fadel, Martín Mauregui, Santiago Mitre e Pablo Trapero
Elenco: Ricardo Darín, Martina Gusman, Carlos Weber, José Luis Arias e Loren Acuña

13 de dez. de 2010

O Último Exorcismo


Pegando carona no estrondoso faturamento nas bilheterias de filmes de terror experimentais, como “Atividade Paranormal” e o espanhol “[REC]” – que não demorou um ano, já ganhou uma pobre versão norte-americana chamada “Quarentena” –, “O Último Exorcismo” parece vir predisposto a reafirmar esse tipo de subgênero no cinema atual, que deu início com “A Bruxa de Blair”, há pouco mais de dez anos. Basicamente, trata-se de jovens curiosos munidos apenas de uma câmera, que se submetem a documentar eventos sinistros em locais desprotegidos. Como esses personagens não são cinegrafistas profissionais e ainda se encontram consumidos pelo medo de enfrentar o desconhecido, a imagem registrada não prima pela qualidade, incluindo cenas que sequer o espectador visualiza o que realmente se passa. Para alguns essa técnica funciona, porque o amadorismo proposital desperta a imaginação de quem assiste e ainda garante um grau de realismo que muitos podem até desconfiar de sua natureza ficcional. Para outros, não passa de uma pretensão pouco eficaz de mercenários que apenas almejam lucro fácil e sucesso. Nessa situação, eu jogo nos dois times, embora confesse que nenhum dos filmes citados teve algum impacto sobre mim, pois apesar da câmera trêmula e todo esse artificialismo, não considero apenas a imagem estampada na tela responsável pelo desconforto, mas sim, a conciliação destas cenas com uma atmosfera perturbadora fruto de um roteiro denso e bem preparado. E este último item, infelizmente, nenhum destes horror fake documentaries têm a oferecer.

Depois de uma carreira dedicada a exorcizar pessoas possuídas por demônios nos templos, o pastor evangélico Cotton Marcus (Fabian) desistiu dessa prática após ler um artigo no jornal em que várias pessoas tentaram expulsar o demônio de um garotinho, que acabara morrendo asfixiado. Para denunciar o processo teatral e esquemático do exorcismo, o reverendo permite que uma equipe de documentaristas filme seu último ritual de exorcismo. Dentre várias cartas que recebe de fieis pedindo ajuda, ele escolhe aleatoriamente a de Louis Sweetzer (Herthum), um homem do campo, de Louisiana, que clama por socorro, pois sua criação de gado vem sendo abatido misteriosamente e ele acha que lida com um caso de possessão demoníaca na família. Chegando ao local, o exorcista descobre que é a filha de 16 anos que é a “hospedeira” e a situação começa a ficar fora de controle.

Embora não seja original, a ideia primária do filme é muito interessante: denunciar os porcos que não economizam esforços para transformar uma “sessão de exorcismo” em um show de espetáculo – e não vou sujar meu blog postando links, basta acessar o YouTube e digitar na busca “igreja universal exorcismo” que já dá uma bela mostra dessa picaretagem. Começando de maneira promissora, apresentando a família do pastor, imagens de arquivos e depoimentos de pessoas próximas, “o Último Exorcismo” é convincente em sua alegoria ao real, o que se intensifica por trazer rostos meramente desconhecidos para protagonizar o projeto, fazendo crer que a formação, a aptidão a pregador e todos os outros eventos aconteceram mesmo na vida real. Infelizmente, depois o filme perde o foco e se converte em pura pornografia de terror para deixar o espectador com frio na espinha, o que pouco consegue, já que os sustos se revelam calculados e sem dosagem.

A câmera, nesse caso, é uma das ferramentas mais importantes, mas a direção do semi-estreante Daniel Stamm falha pela falta de autenticidade em algumas cenas-chave, como a que se passa em um celeiro – alguém aí gritou “O Exorcismo de Emily Rose”?. Nos momentos que deveria ser mais eficazes, o filme acaba traindo a lógica visual com que foi concebido, dando poder à câmera de registrar cenas milimetricamente cuidadosas, o que repercute negativamente no trabalho dos montadores. Ao editarem um plano-sequência, obviamente, ininterrupto – lembrando que o filme é registrando por apenas UMA câmera –, conferimos zooms que não foram acionados, cortes sem explicações, jogo de enquadramentos, imagem perfeitamente clean, impossível para uma pequena câmera digital. Enfim, são desleixos que denunciam o despreparo do diretor, dando a entender que “O Último Exorcismo” aparentemente foi um filme feito sob encomenda, com emergência, para ter passado tantos erros básicos de continuidade.



A premissa é ótima, mas perde o tom e descamba para um desfecho curioso, porém pouco original. Em contrapartida a esses defeitos técnicos, o elenco merece destaque. Sobretudo, a garota possuída interpretada pela estreante Ashley Bell. Reconhecida com uma indicação ao Independent Spirit Awards na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, é surpreendente seu trabalho corporal nas cenas mais assustadoras, que se opõem completamente com sua doçura e meiguice quando esta toma forma de uma garota simples e inocente. O ator Patrick Fabian também está ótimo, principalmente no primeiro ato do filme, já que depois seu personagem ganha contornos de “herói-que-quer-fazer-justiça” e o espectador só tem sua atenção mesmo virada para Ashley, visceral em cena.

“O Último Exorcismo” não é uma catástrofe. É apenas um filme mediano, decepcionante, que caiu nas mãos erradas e que desperdiça um ótimo argumento em prol de uma estrutura relativamente cansativa. Tem um sustinhos bacaninhas, mas nada que você não tenha visto em tantos outros filmes que você consegue identificar “ela vai fazer isso”. E me digam: como alguém ainda consegue levar sustos com o previsível? Resposta: não consegue. E aí está uma das principais falhas do filme.


NOTA: 5,5


O ÚLTIMO EXORCISMO (The Last Exorcism) EUA, 2010
Direção: Daniel Stamm
Roteiro: Huck Botko e Andrew Gurland
Elenco: Patrick Fabian, Ashley Bell, Louis Herthum, Iris Bahr e Caleb Landry Jones

10 de dez. de 2010

A Rede Social


500 milhões de usuários distribuídos em 207 países ao redor do mundo e, hoje, avaliado por uma bagatela de US$ 25 bilhões. Esses são os impressionantes números apresentados pela maior rede social da internet, o Facebook. Inicialmente criado como uma espécie de “fraternidade de elite” exclusiva aos universitários de Harvard, logo o programa tomou proporções estrondosas, conquistando o território de outros campus de faculdades norte-americanas para finalmente atingir os cinco continentes do globo em um curto espaço de tempo. Representando um grande fenômeno da internet, o Facebook é um dos sites que registra o maior número de page reviewers por dia e a frase “me adiciona no Facebook?”, como observa um dos personagens do filme, virou rapidamente um bordão entre os mais jovens, o que não se difere em nada dos dias atuais, apesar dos seis anos que se passaram. A fase anterior à criação, as ideias que customizaram o site, a súbita popularidade e os percalços judiciais que seu criador, Mark Zuckerberg, enfrentou, tudo é examinado com exatidão no magnífico “A Rede Social”. No entanto, enganam-se aqueles que pensam que a película apenas recria a história do nascimento do Facebook. O filme dirigido pelo talentoso David Fincher se apropria do processo de criação da rede social para retratar, dentre outras questões, uma geração de jovens carentes e ambiciosos com fome de reconhecimento, popularidade e aceitação social.

Adaptação do livro “Bilionários por Acaso: A Criação do Facebook”, de Ben Mezrich, “A Rede Social” mostra as etapas de desenvolvimento do site, começando pelo Facemash, em que seu autor, Mark Zuckerberg (Eisenberg), hackeou o sistema online de sete alojamentos e roubou fotos de alunas para comparar a beleza física uma da outra. Esse episódio rendeu ao jovem o primeiro contato com a Justiça, que o puniu por seis meses de suspensão da Academia. Mas este era só o começo de uma enxurrada de processos posteriores – no filme exibem apenas os dois principais. Um deles é dos gêmeos remadores Cameron e Tyler Winklevoss (ambos interpretados pelo ator Armie Hammer), que pretendiam lançar o HarvardConnection, um site de relacionamento exclusivo entre os estudantes de Harvard, e procuraram Mark justamente para o ajudarem com a criação da rede, depois processando-o por roubo de ideia. Simultaneamente, agora com o Facebook já consolidado, foi a vez do cofundador e diretor financeiro da rede social, Eduardo Saverin (Garfield), que levou o melhor amigo à corte porque ele diluiu sua participação nos bens gerados pela empresa sem apresentar explicações. O que pode parecer um filme chato de tribunal é perfeitamente dosado pelo soberbo trabalho do roteirista Aaron Sorkin, que mescla com perfeição os dois processos jurídicos, apresentando flashbacks dos fatos ocorridos e propondo uma brilhante estrutura lógica e narrativa.

Não se pode negar que a internet é mesmo um celeiro que proporciona uma espécie de “falso poder” ao usuário. Na frente de um monitor, o indivíduo se empossa de uma liberdade que ele julga ter o direito de falar e fazer o que lhe bem entender – para citar um caso recente, a jovem racista que humilhou os nordestinos no twitter, culpando-os pela vitória de Dilma Rousseff nas eleições deste ano. Enfim. Em certo momento do filme, uma estudante, ao se defender de ataques pessoais dirigidos a ela através da internet, diz a Zuckerberg para ele “voltar a seu quarto e desfilar o seu veneno como fazem os revoltados de hoje”. Tratando-se de um filme cujas atenções se concentram na criação de um site, é contraditoriamente fantástico esse argumento da personagem de criar um “universo alternativo” para a pessoa expressar seu caráter, pois é covarde o suficiente para se assumir na vida real, passando a utilizar o ambiente online para tentar mostrar ao mundo sua personalidade enrustida. Guardadas as devidas proporções, é com essa intenção que Mark decide criar o Facebook, como se tentasse abrir uma porta para ser reconhecido, ter notoriedade em meio aos membros dos chamados final clubs, que tanto almejava participar. Engraçado que, depois da fama e dos milhões que arrecada, o personagem desdenha completamente a fraternidade acadêmica, mas enquanto era um “Zé” desconhecido, invejava o fato de o amigo ter sido convidado a integrar o clube Phoenix. No entanto, para tentar sair por cima e desfilar a sua prepotência, Mark não pensa duas vezes em ficar na defensiva ao dizer “talvez eles te aceitaram pela cota de diversidade”, fazendo alusão à nacionalidade de Saverin, por ter nascido em um país de terceiro mundo (Brasil).

Aliás, Zuckerberg é mesmo um filho da mãe. Indiferente, arrogante e desagradável, o filme não faz concessões à figura do rapaz, mas também, em nenhum momento, julga sua conduta e modo de encarar as coisas. Pelo contrário, até admiramos a convicção e empenho do jovem, que, por um lado, é dizimado pela falta de experiência em lidar com negócios. “A Rede Social” não faz questão de criar nenhum personagem que conquiste o coração do espectador e isso explica a frieza e individualismo de cada, mas é justamente neste jogo de egos que reside um dos grandes méritos do filme. Com um texto primoroso e diálogos rápidos, ácidos, o filme dispensa qualquer “cena-espetáculo” para ser memorável e prender o espectador na poltrona, sendo unicamente sustentado com a história desenvolvida com magnitude e a inteligência dos realizadores por detrás dessa sinfonia multifacetada.

Mais contido em relação a seus filmes anteriores, o excelente David Fincher acerta ao não abusar das tomadas para não tornar o material excedente, mas ainda assim, entrega um fabuloso trabalho na condução da história, carregando consigo um virtuosismo muito bem trabalhado. Com a câmera sempre atenta às minúcias de cada situação, Fincher captou perfeitamente a essência dessa geração de jovens empreendedores que despontam no mercado e arrecadam alto com suas invenções – além de Zuckerberg, temos Sean Parker (Timberlake), fundador da Napster e que tem participação ativa no Facebook – e muito curioso um cantor interpretar o responsável pela decadência das vendas de CDS que abalou a indústria fonográfica. Vivendo em uma sociedade essencialmente midiática, também não deixa de ser interessante encarar a internet sob essa perspectiva levantada pelo filme de “um mundo de possibilidades”. Em uma das cenas, o presidente da Harvard diz que “os estudantes da universidade estão sempre inventando empregos para ganhar dinheiro em vez de trabalharem em um”. Quer maior exemplo do que este?



As comparações que “A Rede Social” vem recebendo com “Cidadão Kane” não são gratuitas, definitivamente. Da mesma forma que a imprensa abalou a estrutura da sociedade como demonstra a obra-prima de Orson Welles, aqui enxergamos o papel da internet como parte integrante da vida de tantas pessoas, ocasionando até uma “dependência virtual”. O que, de um lado, é libertador, por outro, é uma prisão carcerária a qual o indivíduo se submete e nem sequer visualiza.

Contando com um elenco integralmente composto por jovens promissores, o futuro Homem-Aranha Andrew Garfield está excelente como o amigo traído, aproveitando sempre ao máximo as cenas em que aparece. Da mesma forma, com muita naturalidade, está o ator Armie Hammer, que recebe a difícil missão de interpretar irmãos gêmeos, mas com personalidades diferentes – e escalar um ator (ainda) desconhecido foi uma sacada genial dos realizadores, pois aposto que 95% dos espectadores acreditam que são gêmeos na vida real. Eu caí como um pato. E para a surpresa geral da nação, Justin Timberlake é um dos grandes destaques do elenco. Confortável no papel e muito convincente na caracterização de seu sábio, mas irresponsável personagem, ele protagoniza uma das melhores sequências do filme, que se passa em um restaurante quando conversam sobre o futuro do Facebook ao mesmo tempo em que a cena é intercalada pelo depoimento de Eduardo em uma banca jurídica. Mas ninguém apaga o brilho de Jesse Eisenberg, fantástico no papel principal. Com a fala rápida e certa inexpressividade habitual vista em seus trabalhos anteriores como o espetacular “Zumbilândia”, acho admirável como o ator converte todas essas “deficiências” em qualidades e conquista o espectador seja pelo seu jeito desleixado ou pelo desdém que sente pela raça humana – tanto neste filme como na comédia com os zumbis.

Com a trilha sonora original e muito bem encaixada assinada pelo vocalista do Nine Inch Nails, Trent Reznor, outro ponto positivo de “A Rede Social” é o magnífico trabalho de edição da dupla Kirk Baxter e Angus Wall (parceiros habituais de Fincher), que fornece um ritmo frenético à história, indispensável em se tratando de uma mescla de tantos episódios. Já conquistando vários troféus e indicações nessa temporada de premiações que se inicia, “A Rede Social” certamente é um dos melhores filmes do ano. Inteligente e atual, utiliza um acontecimento verídico para traçar um pertinente registro de uma era que ainda está engatinhando, sem falar no ótimo estudo de personagem que propõe e que se revela magistral em sua ironia: como um cara tão apático conseguiu reunir milhões de “amigos” e conquistar tantos inimigos durante esse processo. Até esse quadro se reverter – e hoje, claro, já se reverteu com a popularidade conquistada pelo rapaz -, aposto que Zuckerberg fez calos nos dedos de tanto apertar a tecla F5.


NOTA: 10,0


A REDE SOCIAL (The Social Network) EUA, 2010
Direção: David Fincher
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Max Minghella e Rashida Jones

7 de dez. de 2010

Coco Chanel & Igor Stravinsky

Considerada um dos maiores ícones da moda não apenas pela confecção de chapéus e criação de uma fragrância que lhe consagraria no ramo, mas também pelo guarda-roupa “ousado”, tingido de cores neutras pouco chamativas e sem apresentar traços essencialmente femininos. Foi cantando em bares e bórdeis que a jovem francesa Gabrielle Bonheur encantou um velho barão, que abriu as portas de sua mansão para a ambiciosa donzela seduzida pelos ares da burguesia francesa. Anos mais tarde, era justamente na alta sociedade da França que Gabrielle, depois popularmente conhecida como Coco Chanel, se estabeleceria. A fase anterior da jovem estilista até consolidar a sua marca é retratada no ótimo “Coco Antes de Chanel”, filme lançado em 2009, dirigido pela luxemburguesa Anne Fontaine e que trazia o talento e a doçura da atriz Audrey Tautou como a personagem-título. Neste “Coco Chanel & Igor Stravinsky”, a história parte do tórrido relacionamento amoroso entre o casal que batiza a obra. Ela, uma artista no auge de sua carreira, proprietária de uma luxuosa mansão – herdada do barão – e financeiramente independente. E Stravinsky, um famoso compositor russo que cede aos encantos da rica estilista e aceita a ajuda oferecida por ela – moradia e empréstimos em dinheiro – até sua situação ficar equilibrada.

Depois de uma peça teatral de sua autoria ser massivamente reprovada pelos espectadores, considerando-a “obscura” e “obscena”, Igor Stravinsky (Mikkelsen) se vê com a popularidade em baixa. Ao contrário do público conservador, Coco Chanel (Mouglalis) se interessa pela excentricidade da arte desenvolvida pelo russo e acaba se aproximando do artista. Ele não recusa o seu socorro e aceita passar alguns dias na mansão de Coco, ao lado da frágil esposa, Katarina (Morozova), e seu rebanho de filhos. Lá, entre os cômodos frios e silenciosos, a infidelidade impera e surge um lascivo romance entre eles, sem afeto ou sentimento, regido pelo puro prazer da carne.

Da mesma forma que o envolvimento do casal protagonista não apresenta nenhuma paixão, o filme em si é elegantemente frio. Talvez a história entre os amantes nem fosse suficiente para render um filme só para eles, já que o caso extraconjugal, a julgar pelo resultado do projeto, não passa de uma atração sexual atrelada à admiração mútua entre duas pessoas de renome. Propondo quase um exercício de incomunicabilidade com o espectador, o diretor holandês Jan Kounen realiza um trabalho mecânico e com pouca vibração. O filme tem fôlego no seu primeiro ato, a exemplo da ótima cena ambientada no interior do teatro – uma composição belíssima que responde perfeitamente ao desconforto que Kounen pretende transferir ao público –, mas depois o potencial que o filme apresentava se dilui no fastio que acompanha a história até seu decepcionante desfecho. A fragilidade de Kounen fica evidente nas cenas em que os personagens-título estão separados por algum compromisso e ele tenta externalizar a saudade e dependência um do outro naqueles momentos de solidão, utilizando o péssimo artifício de olhar para o relógio e ver como as horas não passam sem o amante, para cenas mais tardes, dá-lhe cenas de sexo e saciação carnal.

É um filme com partes muito gratuitas, sem alma, sem parceria. “Coco Chanel & Igor Stravinsky” não cativa o público por completo, não convida o espectador a ser o terceiro elemento de um ménage a trois, o que é decepcionante. Toma formas e estrutura novelescas e se torna enfadonho, quase assumindo um teste de paciência até chegar ao final. Embora o ritmo de tartaruga manca, o filme ainda exibe alguns preciosismos em determinadas cenas que merecem destaque, como quando Coco lê uma carta escrita pela mulher traída e esta logo aparece ao seu lado, como se estivesse recitando os versos no papel, ou até mesmo uma (das milhares) cena de sexo ardente em que a câmera está posicionada no teto do quarto e registra tudo de cima, descendo lentamente. São passagens isoladas que funcionam bem, mas é uma pena que só serve para sustentar um roteiro que não vai a lugar nenhum.


Mais conhecido por dar vida ao vilão de James Bond no excelente “007 – Cassino Royale”, o dinamarquês Mads Mikkelsen já provou ser um bom ator em outras obras, como no belo “Depois do Casamento” ou até no próprio filme já citado do agente secreto, mas aqui cria um personagem antipático e indeciso em que o roteiro não lhe oferece muitas alternativas, o que não lhe confere destaque maior do que é capaz. Interpretando a sua esposa, a desconhecida Yelena Morozova também é limitada pelo script, mas ainda injeta um pouco de compaixão nos olhares da personagem naturalmente sofredora com as puladas de cerca do marido. E, pra fechar o elenco, com chave de...gesso, temos a falta de expressividade e carisma da francesa Anna Mouglalis, que perdida em sua apatia, atua no piloto automático e não dá sequer um toque de interessante a uma das mulheres mais importantes de um segmento conceituado até hoje. Muito bonita, de fato, mas limitadíssima como atriz. Compará-la com o desempenho de Audrey Tautou no outro filme é uma diferença gritante e, se for pensar, até injusta.

Pouco inspirado e mais longo do que deveria ser, “Coco Chanel & Igor Stravinsky” é, na verdade, um grande novelão travestido de perfume francês. E não é Chanel n. 5, porque este eu já senti e é de qualidade.


NOTA: 5,0


COCO CHANEL & IGOR STRAVINSKY (Idem) França, 2009
Direção: Jan Kounen
Roteiro: Chris Greenhalgh, Carlo De Boutiny e Jan Kounen
Elenco: Mads Mikkelsen, Anna Mouglalis, Yelena Morozova, Natacha Lindinger e Grigori Manoukov

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Recebi de dois queridos amigos blogueiros mais um selo para o blog, o Prêmio Dardos.

São o Reinaldo Glioche, da Claquete, e Rodrigo Mendes, do Cinema Rodrigo. Dois dos melhores espaços da blogosfera cinéfila. Muito obrigado, meus caros!

As regras:

1 – Exibir a imagem do selo no seu blog
2 – linkar o blog pelo qual recebeu a indicação
3 – Escolher outros blogs para receber o prêmio dardos
4 – avisar os escolhidos

Portanto, repasso para:

- A Single Arte

- Dialogando Cinema

- Cine ao Cubo

1 de dez. de 2010

Cinema Falado Novembro 2010 - Sociedade dos Cineastas Mortos



DINO DE LAURENTIIS (1919 – 2010)

Atualmente, eu percebo que a figura do produtor é injustamente negligenciada pelas pessoas. Muitos sequer sabem a verdadeira função que os produtores – incluindo os executivos – exercem para o andamento de um filme, nem desconfiando que, se não fossem por estes profissionais, o projeto nem mesmo existiria. Ou até poderia sair do papel, mas em uma versão bem sucateada. Fato é que alguns se tornaram muito conhecidos no decorrer da história do cinema, pelo seu talento, popularidade ou pelo seu temperamento autoritário. Alguns nomes que me lembro de cabeça são Stanley Kramer, Irwin Allen, David O. Selznick e Bob Rafelson, sem contar muitos profissionais de outras áreas que desempenharam este mesmo papel no desenvolvimento do longa, como é o caso de Warren Beatty, que produziu basicamente todos os filme que atuou nas últimas três décadas. Enfim, mas um dos mais ilustres certamente é o italiano Dino De Laurentiis, que exibe um currículo invejável e deixou meio mundo com inveja por ter se casado com um dos mais belos pares de pernas do cinema: Silvana Mangano. Aos 91 anos, De Laurentiis foi para a melhor e o Cinema Falado não poderia deixar passar em branco, concedendo-lhe uma pequena homenagem pela sua imensa contribuição para a Sétima Arte. Fellini, Rossellini, Bergman, Lynch, Lumet, Friedkin, Milos Forman, Cronenberg, Michael Mann e até Sam Raimi no início de carreira. Um legado e tanto. Nós, cinéfilos, só temos a agradecer.

Ouça o programa aqui.


AKIRA KUROSAWA (1910-1998)

Chamem do que quiser, mas eu concordo com aquele outro que diz: “Quem não gosta de Hitchcock e Kurosawa, certamente não gosta de cinema”. Isso não quer dizer que os dois são os melhores cineastas que já existiu – embora, certamente, ambos figurem nessa lista –, mas são dois exemplos de diretores que exploraram verticalmente a linguagem do cinema e acionaram suas potencialidades. Grande nome do cinema japonês, Kurosawa começou sua carreira como assistente de direção até em 1943 assumir a condução de “A Saga do Judô”. Mas só sete anos depois, seu nome seria reconhecido mundialmente com o lançamento do fenomenal “Rashomon”, estrelado pelo seu ator preferido, Toshirô Mifune. Daí pra frente, todos já conhecem a história: uma filmografia exemplar que mescla épicos de narrativas clássicas (“Ran”, “Kagemusha”...) e projetos menores, mais pessoais (“Viver”, “Dodeskaden – O Caminho da Vida”...). Servindo como base de inspiração para grandes filmes de Hollywood como “Star Wars” (“Céu e Inferno”) e “Sete Homens e Um Destino” (“Os Sete Samurais”), Kurosawa conseguiu o apadrinhamento depois de grandes sucessos de pessoas influentes como Steven Spielberg e Francis Ford Coppola no final da carreira, o que rendeu algumas pequenas obras, mas ainda indispensáveis. 2010 marca o centenário de Kurosawa, mas não precisa de uma data comemorativa para falar de um dos maiores cineastas da História.

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DENNIS HOPPER (1936-2010)

Em maio deste ano, em consequência de câncer de próstata, o ator e diretor Dennis Hopper morreu, aos 74 anos. Considerado uma das figuras mais controversas e polêmicas de Hollywood, Hopper tinha James Dean como o seu próprio role model, tendo conhecido o galã durante as filmagens de “Juventude Transviada” e repetido a parceria no oscarizado “Assim Caminha a Humanidade”. Sendo assim, pode-se dizer que Hopper não era lá um bom moço, muito pelo contrário, foi justamente o seu comportamento “porra louca”, sua agressividade (espancava as namoradas e suas quatro esposas) e seu temperamento instável – para não dizer outra coisa – que fez dele uma figura tão marcante. Mas, o que muitos devem se perguntar é: agindo dessa forma, como ele fez carreira? Oras, além do talento comprovado em filmes como “Veludo Azul” e “O Selvagem da Motocicleta”, Hopper dirigiu, roteirizou e protagonizou uma das grandes obras da contracultura norte-americana, “Sem Destino”, dividindo a cena com Peter Fonda e um jovem Jack Nicholson. Somando sua rebeldia “sem causa”(?) a este grande filme, Hopper se tornou um símbolo do movimento de contracultura dos EUA. Assim, o status também o ajudou bastante a transformá-lo na figura icônica que virou. Dirigiu filmes menores e dispensáveis e depois atuou em tantas outras baboseiras como “Waterworld” e “Os Irmãos Id & Ota”, mas nada que apagasse o talento de um dos homens mais odiados e reverenciados de Los Angeles durante a década de 1970.

Ouça o programa aqui.


O Cinema Falado é um programa semanal transmitido pela Rádio Universitária Cesumar. Atualmente na 5ª temporada, toda sexta-feira o trio de apresentadores cinéfilos – eu, Thiago Ramari e Marcelo Bulgarelli – seleciona um filme para que seja colocado em discussão, contanto que o escolhido se enquadre dentro da série mensal estabelecida pelos produtores. Tentando ser justo em abranger os diversos segmentos cinematográficos, o Cinema Falado não se restringe a filmes comerciais, nem aos considerados cult, pois tudo faz parte do mesmo balaio dessa arte que todos nós adoramos – uns mais que outros, mas viver de preconceito pra quê? Desde Bergman até Michael Bay, tudo que envolve o mundo do cinema é assunto para um papo descontraído e com muito bom humor. Para dar um toque especial, a trilha sonora do filme em questão acompanha a conversa de fundo e algumas canções/composições são ouvidas durante os intervalos.

O ouvinte é peça fundamental do programa, afinal a participação e interação de outros cinéfilos é deveras importante para buscarmos novos horizontes acerca do mesmo tema. Sinta-se livre para indicar os filmes e participe também do nosso programa.


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