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28 de dez. de 2010

Gente Grande


Não é novidade pra ninguém o fato de que alguns diretores, por proximidade e admiração, escalam com frequência determinados atores para integrarem o elenco de seus filmes, preferencialmente assumindo o papel principal da história. Diversas parcerias renderam filmes inesquecíveis, além de terem construído perfis de identificação marcantes de acordo com os estilos, hábitos e outros aspectos de cada profissional. Dentre grandes nomes como Federico Fellini ao lado de Marcello Mastroianni ou Alfred Hitchcock com Cary Grant, há também Dennis Dugan e Adam Sandler, responsáveis pelas maiores catástrofes em formato de “comédia” dos últimos anos. A dupla vem bombardeando o cinema com filmes medíocres, mas que, graças à popularidade do “comediante”, tornam-se sucessos instantâneos de bilheteria. A união começou em 1996 com o assistível “Um Maluco no Golfe”, seguido por comédias que trazem “lições de moral” como “O Paizão” e “Eu os Declaro Marido...e Larry!”, até chegarem ao mais baixo nível da vergonha alheia com o desprezível “Zohan – O Agente Bom de Corte”. Um dia, Sandler, muito gente boa, acordou e resolveu prestar um favor para os amigos sem graça como ele, mas que não dividem o mesmo prestígio do público. Elencou outros quatro atores decadentes, escreveu um roteiro baseado em piadas sobre flatulência, obesidade, mulheres gostosas e homossexuais e defecou “Gente Grande”, mais uma atrocidade que leva o selo Happy Madison – produtora do ator – nos créditos.

Roteirizado por Sandler ao lado de Fred Wolf – cujo currículo no cinema é preenchido apenas por comédias retardadas como esta –, “Gente Grande” começa com um acirrado jogo de basquete entre crianças de 12 anos. Com a arquibancada lotada assistindo à partida, o time vencedor foi o comandado pelo treinador Buzina (Clark), que cheio de orgulho, depois leva a equipe campeã para comemorar a vitória em uma lanchonete. Trinta anos se passaram, e é a morte do coach que acaba reunindo os antigos amigos, agora casados, com filhos, mas com o mesmo “espírito infantil”. Lenny (Sandler), Eric (James), Kurt (Rock), Marcus (Spade) e Rob (Schneider) se reencontram para velar o corpo do antigo companheiro e resolvem passar um final de semana com a família em uma casa de campo que costumavam se encontrar quando eram mais jovens.

É até difícil enumerar a quantidade de defeitos do filme, porque basicamente pouca coisa se salva dessa tragédia grega. Dugan já disse, certa vez, que a público-alvo de seus trabalhos não vai ao cinema em busca de uma mensagem, vão com o único objetivo de dar boas risadas. Tudo bem. Todo mundo precisa assistir a filmes como puro entretenimento, apenas para se divertir, mas “Gente Grande” é debochado ao extremo, não tem qualidade cômica, sequer apresenta a menor preocupação com a narrativa, que só funciona como pretexto para ostentar piadas gratuitas e desconexas. E, nesse sentido, o filme não desperdiça um frame. Até em cenas que exigiam o mínimo grau de sensibilidade, como o próprio funeral do tal treinador, Sandler converte tudo em um stand up comedy dos mais absurdos, levando as pessoas que compareceram à igreja a darem gargalhadas em pleno velório (!). Como ficam os familiares do morto? Onde fica o respeito pela pessoa pelo qual nutriam tanta consideração como os personagens diziam?

Sem dirigir um filme que preste em toda sua ridícula filmografia, Dennis Dugan comprova ser um dos piores diretores em atividade. A preguiça do diretor não imprime identidade em nenhuma cena e sua falta de conhecimento cinematográfico resulta em ângulos totalmente óbvios e outros deslocados. Como se não bastasse, desperdiça grandes chances de não transformar “Gente Grande” na tortura que é, ao menos estabelecendo algumas transações mais elegantes, como no jogo de basquete final – um coisa meio “Doze é Demais 2” – e em tantos momentos amadores e gritantes em sua arbitrariedade. Em suma, é um conglomerado de cenas estúpidas, que submetem os atores a situações vexaminosas, como é o caso da eficiente Maria Bello, que passa boa parte do filme dando de mamar ao filho de 4 anos (!!!).



Os atores são uma fraude. Adam Sandler interpreta sempre o mesmo tipo de cara despreocupado, com piadinhas que denigrem a imagem de outra pessoa, mas com um coração que não lhe cabe no peito (ah vá!). Rob Schneider faz hora extra, Kevin James e Chris Rock só estão para fazer volume à equipe, e o personagem de David Spade, o único solteiro entre os cinco, perde uma grande chance de fazer piadas mais inspiradas, o que acaba se revelando posteriormente o mais idiota e irritante entre eles – e isso não é pouca coisa. É de se esperar uma desgraça retumbante com um elenco como esse, mas o que me deixa mais frustrado em “Gente Grande” é o envolvimento de atrizes talentosas em papeis dignos de uma Jennifer Coolidge da vida. Bello, já citada, e Maya Rudolph até que driblam as péssimas personagens que interpretam, mas quem “surpreende” e entrega a pior atuação do filme é a mexicana Salma Hayek Pinault, pois é notório o esforço frustrado da atriz em fazer a plateia rir, o que acaba só reforçando suas limitações como comediante.

Mas o roteiro também não colabora. No caso de Hayek, tem uma cena específica que ela deve deixar o local para viajar a negócios, mas antes de pegar o voo, junta-se às crianças para atirar pedras e fazê-las quicarem em um riacho. Após perceber que perdeu essa habilidade, Hayek chega ao marido e pede para cancelar sua passagem porque “vai demorar alguns dias para reaprender” (!). E nem sequer o roteiro a mostra treinando jogar a maldita pedra no rio novamente! E que tipo de profissional deixa de viajar para um compromisso no exterior para recuperar a técnica de atirar pedras na água estilo patinho?! Está aí uma das milhares de saídas criadas pela mente fértil dos roteiristas, que ao lado da incapacidade do diretor em criar uma cena no mínimo interessante ou meramente engraçada, entrega uma das maiores bombas do ano, mas também um dos filmes mais assistidos nos cinemas em 2010 – inexplicáveis US$ 162 milhões arrecadados.

“Gente Grande” não parece cinema. Está mais para uma (das várias) campanha publicitária para promover a figura de Adam Sandler, um cara bacana, engraçado, que trabalha em Hollywood e consegue tirar o sutiã de Salma Hayek logo no primeiro encontro, joga basquete melhor do que Michael Jordan e dá piruetas extraordinárias em um cabo de tirolesa. Desta vez, o ator resolveu fazer uma boa ação e dar uma guinada na figuração pública de seus amigos, que parecem não estarem recebendo propostas de trabalho tão boas para aceitarem participar de uma merda como esta, mas enfim, também parece ser o máximo que estes atores são capazes de fazer.


NOTA: zero

GENTE GRANDE (Grown Ups) EUA, 2010
Direção: Dennis Dugan
Roteiro: Adam Sandler e Fred Wolf
Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Chris Rock, David Spade, Rob Schneider, Salma Hayek Pinault, Maria Bello e Maya Rudolph

8 comentários:

cleber eldridge disse...

Fico longe do Adam Sandler o quanto posso!

Gui Barreto disse...

Engraçado que já ouvi opiniões positivas e negativas desse filme...ainda não assisti, mas me disseram que não se para de rir um só minuto...sei lá...eu tbm não gosto nem do Adam Sandler, nem do Bem Stiller (os dois da mesma laia)...acho que nem vou assistir pra dizer oq ue achei rsrsrrs..

Elton, feliz 2011...agora só volto a postar na segunda...então bom restinho de ano e que no ano que vem vc realize todos os seus objetivos....abrs

bruno knott disse...

Deve ser uma coisa de louco, hein????


Zero é pesado, fiquei curioso pra ver isso!

Sou masoquista.

Hehe

Abs.

pseudo-autor disse...

Está na hora do Adam Sandler repensar a sua carreira. É o terceiro filme mais do mesmo dele! Assim não dá.

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com

Alyson Santos disse...

Vish! Ja nem conhecia a existencia do filme. Agora nem quero chegar perto. Nunca fui fã do cara, mesmo..rs!

Abraço!

Rodrigo Mendes disse...

Ótimo texto Elton e sua introdução a respeito das parcerias entre cineastas e atores. Fellini e Mastroianni eram ótimos cúmplices, assim como Hitch e tbm com James Stewart e Scorsesw com De Niro e Dicapro.

Enfim, eu sempre passei longe de Sandler com Dennis Dugan depois de uma sessão da tarde com o Rei Da Água ou era mesmo este Maluco do Golfe sei lá, rs!

O Paizão foi a única coisa que gostei. Sandler tem cara limpa para fazer comédias, ams ultimamente ando à distância de seus filmes.

Abs.
Feliz ano Novo!
Rodrigo

Elton Telles disse...

CLEBER: você é uma pessoa sensata.


GUI BARRETO: ignore completamente quem disse que este filme é bom rs, é uma perda de tempo, nem engraçadinho é. Se eu dei 2 sorrisos foi muito, viu. Adam Sandler e Ben Stiller são mesmo comediantes fraquíssimos, mas irônico que quando estão com bons diretores e protagonizam "dramédias", eles se saem infinitamente melhores - não a nível de um Jim Carrey - do que essas comédias escrachadas e pastelão que os levaram ao sucesso. Enfim.


Hahaha BRUNO, tbm sou masoquista. Vejo cada porcaria que dá até vergonha de colocar aqui rs.


PSEUDO-AUTOR: Terceiro? Você está sendo generoso. Ele interpreta sempre o mesmo tipinho. Se não mudasse o nome, pensaria que seus personagens fossem as mesmas pessoas, claro, salvas raras exceções, principalmente qdo o filme não é dirigido pelo patife do Dennis Dugan, que faz hora extra nessa vida rs.


ALYSON: você é uma pessoa sensata [2]


RODRIGO: Valeu, meu caro! Chega a ser até uma blasfêmia colocar essas parcerias fantásticas do cinema e desses dois "sócios comerciais", né? Tsc!

"O Rei da Água" é dirigido pelo outro sócio de Sandler, Frank Coraci, responsáveis por essa merda e aquela outra chamada "Click" hihihi. Cara, é uma máfia! Hahaha! Não repreendo todos os seus trabalhos, não, ele se saiu bem em "Embriagado de Amor", "Tá Rindo de quÊ?" e "Como se Fosse a Primeira Vez". Mas se for colocar na balança, preciso nem falar nada, né? "Little Nicky" e "Zohan" já falam por si só.

vou ficar quieto xDDDD


ABRAÇO A TODOS!

Unknown disse...

vai la faz um filme melhor então fodão