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28 de nov. de 2010

RED - Aposentados e Perigosos

“RED – Aposentados e Perigosos” é o filme ideal para o espectador que não pretende assistir a uma obra exigente, mas apenas sentar na poltrona da sala de exibição, relaxar e se divertir com cenas um tanto quanto incomuns no cinema, como aquelas em que Dame Helen Mirren está portando uma submetralhadora ou quando John Malkovich rende uma mulher indefesa no aeroporto. A propósito, são essas “raridades” que não costumamos conferir com frequência na telona, acompanhadas por uma atmosfera leve e agradável com que o filme foi concebido, que torna “RED” uma sessão imperdível. Entretanto, se predispormos a analisar o filme com olhares clínicos, percebemos o quanto o diretor Robert Schwentke e os dois roteiristas desperdiçaram um material excelente e entregaram apenas um filme mediano que se sustenta por boas gags, por um elenco afiado sem medo de soar ridículo e pela excentricidade natural dos personagens badass da terceira idade – o que é uma contribuição maior do HQ que serviu como base para o roteiro. Nessa equação, os idealizadores acabaram deixando a desejar, mas ainda são bem sucedidos por manterem o público atento à história que contam.

Escrito pelos mesmos (ir)responsáveis por “Terror na Antártida”, é uma pena que os jovens irmãos Erich e Jon Hoeber parecem se limitar ao convencional em vez de abusarem da criatividade para ousar a narrativa, pois “RED” (e o outro filme de terror citado) não se reinventa, pois repetem o senso comum de outros filmes do gênero, mas desta vez com personagens “idosos”. O filme começa primeiramente investindo na boa comédia ao mostrar o relacionamento amoroso que surgiu pelos telefonemas insistentes do ex-agente da CIA Frank Moses (Willis) para a telefonista da Previdência Social, Sarah (Parker). Eles não se conhecem, mas depois que Frank se torna alvo de criminosos, ele sequestra Sarah com medo de que a matem por vingança e “RED” passa a mesclar o cômico com cenas típicas de um filme de ação. Os dois atravessam os Estados Unidos recrutando os antigos comparsas do ex-policial para ajudá-lo, dentre eles o sóbrio Joe (Freeman), a sexy atiradora profissional Victoria (Mirren) e o ensandecido workaholic Marvin (Malkovich).

De nacionalidade alemã, o diretor Robert Schwentke estreou em Hollywood com o decepcionante “Plano de Voo” e emendou, quatro anos depois, o sci-fi romântico “Te Amarei para Sempre”. Desta vez, no comando de “RED”, o diretor parece estar procurando a sua vocação no cinema, chutando para todos os lados a fim de descobrir em qual gênero melhor se encaixa. Definitivamente, não é na comédia. Nem no romance, muito menos nos filmes de ação. Com baixo teor de adrenalina, o diretor faz apenas o básico, mantendo-se na superfície sem explorar o seu material, e ainda arquiteta umas tantas cenas sem sentido e pouco empolgantes, como quando as duas personagens femininas do filme estão dando cobertura do lado de fora de uma mansão e vários inimigos aparecem atrás delas, parecendo ignorá-las. Até mesmo a cena do estacionamento, que parecia ter potencial, se revela relativamente frouxa e sem muito entusiasmo. Entretanto, há outras que merecem destaque como a luta entre os personagens interpretados por Bruce Willis e Karl Urban em um escritório e outra bem planejada ambientada no aeroporto, que também se revela divertida pela sua violência, mas seu desfecho sofre pela falta de originalidade.

Também crucificado pela edição picotada e por piadinhas bobas do roteiro meia-boca, Schwentke tenta tirar água de pedra para fazer de “RED” um filme meramente engraçado. Entre algumas boas investidas, como Willis e Parker “conversando” dentro de um carro ou o russo apaixonado pela personagem de Mirren, interpretado por um Brian Cox sedutor e hilário pela sua canastrice, o filme carece de uma condução mais firme e sólida para que as cenas sejam efetivamente proveitosas, principalmente as que têm pretensão em fazer o público dar boas risadas. Mas os roteiristas erram por adicionar piadas sem espírito próprio e já batidas, que somadas com a deficiência do diretor em construir cenas mais longas e de extrair a comicidade do grupo de atores, acabam prejudicando o filme em seu lado cômico.

Ainda bem, no entanto, que “RED” conta com um elenco de profissionais. Assumindo o chamariz para se assistir a película, é, portanto, no conjunto de atores veteranos que se encontra o grande mérito do filme. É legal conferir Bruce Willis reencarnando esses personagens perigosamente engraçados que o consagrou, e o ator revela uma ótima química com a comediante Mary-Louise Parker. Da mesma forma, é sempre um prazer ver Morgan Freeman nas telonas, e o mesmo se encaixa à bela Helen Mirren, convincente em um papel que não condiz com sua imagem, mas que ela consegue conciliar com seu charme e classe. E jurava que Ernest Borgnine já tinha ido pra melhor, foi uma grata surpresa vê-lo no filme, a despeito de sua curta participação. Mas é o insano John Malkovich que torna o filme mais prazeroso, e os tão questionáveis tiques de atuação do ator se encaixam perfeitamente para seu personagem neurótico.

Apesar das críticas negativas, “RED” é um filme recomendável mais pela curiosidade em ver Malkovich assumindo o papel de um homem-bomba e Helen Mirren mirando com sua arma do que realmente a história que tem pra contar. A arrecadação do filme somente nos Estados Unidos ultrapassou a marca dos $ 90 milhões, e isso é um indicativo de que se pode aguardar uma sequência nos próximos anos. Mas tomara que tenham bom senso e contratem bons realizadores para dar mais fôlego e arrojo a um material que merecia muito mais.


NOTA: 6,0


RED – APOSENTADOS E PERIGOSOS (RED) EUA, 2010

Direção: Robert Schwentke

Roteiro: Erich Hoeber e Jon Hoeber

Elenco: Bruce Willis, Mary-Louise Parker, John Malkovich, Morgan Freeman e Helen Mirren

6 comentários:

Amanda Aouad disse...

Eu achei uma diversão, Elton, mesmo com o pouco aproveitamento de roteiro e direção. É para ser um filme zoado mesmo. Uma curtição só com os próprios filmes de ação.

bjs

renatocinema disse...

Foi uma boa diversão........sem dúvida.

Reinaldo Glioche disse...

Não seria tão severo quanto vc na avaliação de RED.
As críticas(que vc cita), no geral, tem sido mais positivas. (No Brasil é que tem predominado críticas negativas).
Concordo com suas observações a respeito de Schwentke, mas acho que este se configurou em seu melhor trabalho em Hollywood. Mesmo que ele deva isso ao elenco.
abs

cleber eldridge disse...

Parece só mais um filme em meio a tantos, verei quando chegar as locadoras ;D

Sandro Azevedo disse...

Fiquei com pé atrás com esse filme, mesmo tendo Helen Mirren e Morgan Freeman. Não sei porque.. mas acho que vou dar o braço a torcer e conferir o filme! Abração!

Sandro Azevedo
blog24fps.blogspot.com

Elton Telles disse...

Oi Amanda. Então, eu também me diverti, dei algumas risadas e gostei de algumas cenas ousadas, mas a encheção de piadinhas out e sem graça diminuia o filme, que poderia ser melhor aproveitado. Mas ainda assim, um bom exemplar. Eu recomendo!


Renato: foi sim. Sem dúvidas. Mas poderia ser melhor.


Reinaldo: quando me referi às "críticas negativas", quis dizer a que tem no meu texto mesmo, não o geral. Mas entendo que realmente ficou um pouco ambígua a frase e reconheço que o consenso mais aprovou do que falou mal de "Red". Ainda bem. Agora, Schwentke... trabalho bem irregular, o elenco é que é o grande atrativo e que faz valer o filme.


Cleber: não perca a oportunidade de ver Helen Mirren com uma submetralhadora no cinema, meu caro. É demais! rs


Sandro: antes de ir, deixa o cérebro em casa e compra a pipoca. Desta forma, certamente você vai se divertir.


ABRAÇO A TODOS!