“As Bicicletas de Belleville” é um filme atrativo por ser, principalmente, aquém da maioria das animações. Seja pelo gráfico desestruturado, quase cubista, pelos personagens que transbordam carisma sem nem mesmo proferir uma palavra durante a projeção ou pela aura que beira o bizarro e o pitoresco. Trata-se de uma animação que não se apropria da técnica para atrair público, foi apenas a alternativa, o método adotado pelo diretor francês Sylvain Chomet para contar sua fábula. Sem necessidade de embasar a trama, somos apresentados, de imediato, à velha matriarca portuguesa Madame Souza, que divide a casa com seu triste e cabisbaixo neto, o pequeno Champion – nome mais que sugestivo. Dentre as tentativas frustradas de ver o garoto esboçando um mero sorriso, sua avó acaba lhe presenteando com uma bicicleta, e o garoto recebe a novidade com a maior alegria, demonstrando amor incondicional pela “magrela”. O tempo passa e Champion, ciclista profissional com as panturrilhas maiores que a cabeça, vai disputar o concorrido Le Tour de France. Durante a competição, o jovem é sequestrado por dois homens de preto e a avó diligente, com a ajuda das novas amigas cantoras – as Trigêmeas de Belleville, o título original do filme – partem em busca do cativeiro onde ciclista está clandestinamente hospedado.
Já ficou maçante bater na tecla de que “animação não é mais filme para crianças”, mas este, definitivamente, não é mesmo. Alguns conseguem conciliar o prazer infantil com algum senso de conscientização coletiva ou conteúdo mais adulto – a Pixar tá aí pra isso – mas acredito que “Belleville” seja muito complexo para ser compreendido e apreciado por mentes puras e imaturas. A principal justificativa para tal constatação é a crítica ao consumismo implícita na estética da cidade francesa presente no título. Aqui, Belleville é estruturada sobre os alicerces da futilidade e do capitalismo que destrói tradições, é a “americanização” da sociedade, a destruição de identidades próprias que se acomodam nos modismos e na superficialidade imperceptível. Um dos grandes destaques do filme é mesmo as desengonçadas e carismáticas trigêmeas francesas, cuja excentricidade é natural e cativante. Concordo com aqueles que afirmam que o filme merecia uma garimpada em algumas cenas muito longas, mas Chomet merece todo o reconhecimento pela condução de um filme que se sustenta apenas por imagens, desprovido (quase) totalmente de diálogos, presenteando a todos com uma animação diferente, cínica e, ao mesmo tempo, encantadora.
PROGRAMA CINEMA FALADO – 13/08, ÀS 20h30, AO VIVO
FILME EM CARTAZ: “AS BICICLETAS DE BELLEVILLE” (2003)
O Cinema Falado é um programa semanal transmitido pela Rádio Universitária Cesumar. Atualmente na 5ª temporada, toda sexta-feira o trio de apresentadores cinéfilos – eu, Thiago Ramari e Marcelo Bulgarelli – seleciona um filme para que seja colocado em discussão, contanto que o escolhido se enquadre dentro da série mensal estabelecida pelos produtores. Tentando ser justo em abranger os diversos segmentos cinematográficos, o Cinema Falado não se restringe a filmes comerciais, nem aos considerados cult, pois tudo faz parte do mesmo balaio dessa arte que todos nós adoramos – uns mais que outros, mas viver de preconceito pra quê? Desde Bergman até Michael Bay, tudo que envolve o mundo do cinema é assunto para um papo descontraído e com muito bom humor. Para dar um toque especial, a trilha sonora do filme em questão acompanha a conversa de fundo e algumas canções/composições são ouvidas durante os intervalos.
O ouvinte é peça fundamental do programa, afinal a participação e interação de outros cinéfilos é deveras importante para buscarmos novos horizontes acerca do mesmo tema. Sinta-se livre para indicar os filmes e participe também do nosso programa.
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Só lembrando, as sessões semanais são às sextas-feiras, ao vivo, às 20h30.
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4 comentários:
Olá, Elton.
Nunca havia lido nada sobre As Bicicletas de Belleville mas há tempos que ele está na minha lista de filmes para assistir antes de morrer.
Adorei o texto. Contagiante como andar de bicicleta, se me permite o trocadilho. Convenceu-me quase 100%, se não fosse pela última oração.
rsrsrs
Entendi, com a tua justificativa.
Um abraço.
Olá Elton! Bacana o programa de hoje. Adoro As Bicicletas de Belleville, uma animação subestimada pela maioria. Adoro o visual e os traços desta animação.
Gostei das referências com Jacques Tati, tbm vejo algumas coisas de Truffaut nesta obra enfim....
O último filme que vcs falaram no programa do Tati é: 'As Aventuras de Mr. Hulot no Tráfico Louco' de 1971...procure é muito louco, rs!
E realmente cada vez mais as animações são para adultos e tem muita coisa boa e até clássicos como: Heavy Metal produção do Ivan Reitman.
Putz, muito legal o programa e o papo cinematográfico. E concordo com vc em realação ao 3D. Tanto que 3D já existia na década de 50 nos filmes de monstros da Universal por exemplo (O Monstro Da lagoa Negra) e muitos outros do William Castle. Foi novidade à época e logo acabou. Parece que acontecerá de novo! Eu por exemplo não troco o 3D por uma outra novidade ainda melhor: o IMAX, rs!
E vou estar ligado na semana que vem: Adoro o 'THX 1138' do Lucas. (O Michael Bay copiou a premissa deste filme em 'A Ilha').Preciso obter o DVD que não encontro, rs!
Abs,
Rodrigo
Cassio: E aí, cara! Que bom que o Dialogando voltou à ativa =)
e fico feliz que o meu texto deixou você mais convencido a assistir. "As Bicicletas de Belleville" é mesmo um ótimo filme, uma animação contagiante que se difere das demais. Valeu aí pelo seu comentário o/
Grande Rodrigo! Valeu por ter ouvido o programa, cara. E fico feliz que você tenha gostado ^^ Tem que participar com a gente lá um dia, você está mais que convidado. o/
Como eu disse no programa, tenho dívidas com Jacques Tati, cara. Ainda não assisti a nenhum de seus filmes, mas valeu por ter apontado alguns e vou repassar para o pessoal o título que eles estavam procurando =) . Sou louco para conferir um filme em Imax! hahaha. E tu tá convidado pra participar do programa semana que vem já que já viu e aprovou "THX 1138". No mínimo, um filme curioso... Obrigado, meu caro!
ABS!
Adoro este filme, que fiz até questão de comprar. Um deleite.
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