Como o próprio título indica, é simplesmente complicado sobreviver ao tédio que impera durante o filme. Chato e desinteressante, trata-se de mais um dispensável exemplar dirigido pela medíocre Nancy Meyers, uma diretora (e roteirista) marcada pelos filmes esquemáticos e que contam basicamente a mesma história, só muda de personagem. Assim como em todas suas películas anteriores, o plot parte de pessoas ricas e bem sucedidas que se sentem incompletas e parcialmente infelizes por não terem alguém com quem dividir a cama e cozinhar receitas de bolo – bem ao estilo da diretora. No entanto, essas “pessoas” sequer desconfiam de que a felicidade pode ser integralmente alcançada no momento em que encontrar alguém piadista, simpático e descolado. Esses “indivíduos” são rapidamente detectados e apontados como uma promessa amorosa pelos fieis amigos, que tentam convencer as “pessoas” perdidas na vida de que o melhor a fazer é se aventurar em um grande amor. O relacionamento amoroso flui perfeitamente até que, em certo momento, são detectadas algumas rupturas e todos se afastam; mas no final, todos ficam felizes e satisfeitos: continuam morando em suas respectivas mansões, que abrigam um carro potente na garagem, ganham rios de dinheiro, persistem em cultivar uma amizade saudável com companheiros fúteis e, acima de tudo, agora tem alguém para chamar de “seu”.
Acompanhando o raciocínio da descrição no parágrafo anterior, as “pessoas” do cinema de Meyers foram encarnadas pelas atrizes Helen Hunt, Diane Keaton, Cameron Diaz, Kate Winslet e Meryl Streep, enquanto os “indivíduos” foram interpretados por Mel Gibson, Jack Nicholson, Keanu Reeves, Jude Law, Jack Black, Steve Martin e Alec Baldwin – sim, a quantidade de homens é maior porque as protagonistas são tão “excepcionais” que desperta o interesse de mais de um homem ao mesmo tempo. É inexplicável como Nancy Meyers consegue elencar tantos atores talentosos – uns mais que os outros – em seus filmes bobos e extremamente superficiais. Com exceção do casal de “Alguém Tem que Ceder”, que consegue contornar o roteiro esdrúxulo com atuações convincentes, todos os outros são praticamente desperdiçados com personagens ignorantes e estereotipados. Isso porque eu não adentrei no time de coadjuvantes encabeçado pelas competentes Marisa Tomei e Frances McDormand.
“Simplesmente Complicado” narra a situação desconfortável que se encontra a empresária Jane Adler (Streep). Ao viajar para Nova York a fim de assistir a graduação de um dos seus três filhos, por acaso ela se encontra com o ex-marido, Jake (Baldwin), e acabam reatando a relação às escondidas, já que o homem ainda está comprometido com a mesma mulher que ele havia traído a ex. Dias mais tarde, Jane se interessa pelo engenheiro Adam (Martin) e sente que as tentativas de aproximação são recíprocas. Confusa, ela busca apoio nas sugestões das amigas para saber com quem realmente merece se relacionar: com o ex-marido infiel ou com o homem que está projetando as reformas de sua casa.
A despeito de cenas isoladas como a do baseado ou a que envolve um quarto de hotel, o roteiro de Nancy Meyers apenas repete diversos elementos de outras comédias românticas, atribuindo essas mesmas características para personagens da meia-idade. Reconheço que o espaço para romances entre personagens mais velhos não é tão grande no cinema, mas se desejam assistir a um filme atual e realista, que faça jus a figuras responsáveis e dignas da idade e experiência que possuem, recomendo o ótimo “Tinha que Ser Você”, encabeçado por Dustin Hoffman e Emma Thompson. Diferentemente deste, a sensação que tive ao assistir “Simplesmente Complicado” é de que estava diante de um filme teen protagonizado por atores sexagenários. É embaraçoso acompanhar a cena de Streep e Martin cozinhando cookies e se divertindo como se estivessem em um parque de diversões ou quando a personagem central deixa transparecer sua vulnerabilidade e corre desesperadamente atrás de um terapeuta para tirar suas dúvidas, isso quando não apela para as amigas estúpidas, em uma versão “Sex and the City” do clube da vovó. Como prova da falta de originalidade e talento, a diretora chega até a reciclar uma passagem famosa de “Alguém Tem que Ceder”, no momento em que um dos personagens fica nu e é surpreendido por outra pessoa que não merecia testemunhar o ocorrido.
Comadre do novelista Manoel Carlos, Meyers sempre reforça aquela que talvez seja sua filosofia de vida: ninguém é autossuficiente, a pessoa só se completa quando tem outra ao seu lado. Em certo momento do filme, um personagem se dirige a Jane: “você pode ter seu restaurante e construir sua cozinha perfeita. Mas que tal ter alguém para te abraçar no meio da noite?” Sinceramente, eu não entendo e discordo plenamente dessa obrigação social estúpida e conservadora. E é isso que “Simplesmente Complicado” é, embora tente se passar por liberal na (divertida) cena em que alguns personagens estão alucinados sob o efeito da maconha. No final das contas, não passa de um filme antiquado e careta. Quanto ao desenvolvimento dos personagens, a roteirista é econômica (eufemismo) ao simplesmente caracterizá-los como pessoas infantis que são movidas por impulsos e vontades, abandonando qualquer resquício de racionalidade.
Mesmo com as ilustres presenças dos excelentes Meryl Streep e Steve Martin, é surpreendente constatar que todo o destaque do filme vai para Alec Baldwin, que reergueu sua carreira ao interpretar o egoísta Jack Donaghy na premiadíssima série “30 Rock”. Aqui, ele interpreta um sujeito malandro e determinado, que parece sempre ter a resposta na ponta da língua. Mesmo estando no piloto automático, é sempre prazeroso ver Meryl Streep em cena, ainda que interpretando, talvez, a personagem mais idiota de sua carreira. Steve Martin, por sua vez, rende bons momentos, mas, ao todo, é completamente desperdiçado, como também o caso do ator John Krasinski, ambos com potencial para irem além do que foi proposto pelo roteiro, o que é uma pena.
É possível que muitos espectadores ao término de “Simplesmente Complicado” tenham a sensação de que já viu esse filme antes. E viu. Basta levantar os próprios filmes da filmografia homogênea de Nancy Meyers que vai estar tudo condensado ali, só que com um pouco menos de inspiração e, graças a Deus, com duração menor.
NOTA: 4,5
SIMPLESMENTE COMPLICADO (It’s Complicated) EUA, 2009
Direção e Roteiro: Nancy Meyers
Elenco: Meryl Streep, Alec Baldwin, Steve Martin, John Krasinski e Lake Bell
10 comentários:
Eu achei a mesma coisa que você, achei um filme dispensável!
O único filme de Meyers que consegui gostar foi "O Amor Não Tira Férias", gostei da Diaz e Winslet neste filme.
Você achou mesmo que este filme teve a duração menor ? Eu jurava ter visto umas duas horas e meia de filmes, rs
Enfim, não gostei deste filme, infelismente!
haha! Realmente é Simplesmente complicado ver o filme. Eu tenho o DVD e divide-se em dois, mas só consegui ver um. E realmente é sem climax algum, sem extase, sem gargalhadas. O máximo que pode me fazer é dar agua na boca, com todas aquelas delicias e eu sem nada em casa. rs! Talvez a Nancy consiga reunir tantos talentos em seus filmes vazios, justamente por persistir em "cultivar uma amizade saudável com companheiros fúteis".
Abraço!
Nancy Meyers é um lixo. Period.
E Meryl Streep tá precisando de bons papéis,convenhamos...sim,pq protagonizar sucessos de bilheteria com personagens de qualidade duvidosa não é lá um grande mérito artístico.
Parabéns pelo texto,sintetizou mt bem o q penso acerca dessa comadre do Manoel Carlos,rs.
o/
Não é o melhor roteiro de Nancy Meyers, mas, certamente é um filme engraçado, dei litros de risada quando fui ao cinema. Alec Baldwin e o Krasinski estão hilários. E é claro, Meryl Streep em mais uma de suas ótima interpretações.
Ainda não assisti, mas deve valer pela Meryl mesmo. Filmes assim, acabamos esperando somente como um passatempo de uma tarde de sábado. "Simplesmente Complicado" parece ser esse tipo de filme.
Beijos! ;)
Pois é Elton. Já havíamos discordado sobre Nancy Meyers antes. E, como não poderia deixar de ser, discordamos veementemente aqui de novo.De qualquer maneira, apesar de discordar em quase tudo, sou obrigado a louvar a construção do seu texto. Muito boa.
abs
Seu texto está impecável! XD
Tivemos absolutamente as mesmas impressões, talvez pelo fato de termos assistido ao filme juntos e de 5 em 5 minutos olharmos um para o outro e dizer: "que saco,ainda nem chegou na metade".
Sinto muito em dizer que nem mesmo Streep foi uma brisa refrescante diante do tédio que acompanha as longas 2 horas de filme.
Não sou tão conservadora assim, muito menos rica e bem sucedida... mas confesso que existe uma pitadinha de Nancy em mim, afinal, nao sei o que seria das minhas receitas mirabolantes sem a sua companhia, e ajuda com as cebolas, é claro (LINDO!). Aliás, o croque monsieur ainda nao saiu do papel, rs.
BEIJOS!
Ah, discordo totalmente. Este filme não tem nada de chato e monótono e desinteressante. Acho que ele ganha em energia quando Alec Baldwin, Meryl Streep e Steve Martin estão juntos em tela. Eu adorei este filme!
É mesmo um filme bem problemático, mas achei assistível e ocasionalmente agradável pela dupla fantástica de Meryl & Alec - em ótimas atuações. O roteiro também possui alguns sinceros momentos. Mas é só.
ps: é mesmo muito longo o filme!
Bem ruinzinho o filme, realmente! A única coisa interessante é a atuação de Meryl! (como sempre!)
Abração! +)
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