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24 de jan. de 2011

O Turista


O principal atrativo que faz de “O Turista” um filme imperdível é a equipe invejável de profissionais envolvidos na criação artística do longa. Em março do ano passado, quando o projeto foi anunciado, muitos cinéfilos já ficaram antenados com um possível grande filme de espionagem que poderia surgir, pois levando em consideração o time de grandes nomes que encabeçam a fita, era de se esperar uma obra-prima. Chamem para diretor o alemão Florian Henckel von Donnersmarck, que fez plateias de todo mundo se emocionarem com o belíssimo “A Vida dos Outros”, e ainda lhe atribua a missão de roteirizar um filme de ação com pitadas de romance ao lado de escritores do calibre de Christopher McQuarrie e Julian Fellowes. Nada mais do que um James Newton Howard para se encarregar da trilha sonora, como responsável de dar a iluminação adequada a uma Veneza estonteante um tal de John Seale, Joe Hutshing fica incumbido de editar o resultado final das filmagens e ninguém mais do que uma “costureira” conhecida no mercado como Colleen Atwood para desenhar alguns vestidos luxuosos para a atriz principal. Para engrossar o caldo, convide como protagonistas nada mais do que Johnny Depp e Angelina Jolie, dois dos atores mais cobiçados de Hollywood – e das revistas de fofocas – e façam deles um casal romântico. Voilá! O manual para se fazer um clássico do gênero ou, ao menos, um ótimo entretenimento está pronto. Contudo, é lamentável que, na prática, absolutamente todas (TODAS!) essas peças fundamentais para “O Turista” engrenar estavam enferrujadas, rendendo uma das maiores frustrações dos últimos anos que reúna tantos oscarizados por metro quadrado.

Em Paris, as câmeras atentas da Scotland Yard, em operação junto com a polícia local, registram cada movimento da bela Elise (Jolie) na tentativa de surgir alguma informação para capturar o seu amante, Alexander Pierce, um fugitivo que não está apenas na mira da Polícia Metropolitana de Londres por desviar milhões em impostos, mas também na lista de procuras do mafioso Reginald Shaw (Berkoff), que fora roubado por Pierce enquanto este era seu empregado. Na cena inicial, a mulher recebe um bilhete assinado pelo foragido ordenando-a a embarcar no próximo trem para Veneza, encontrar um homem durante a viagem que possa “lembrá-lo” e repassar sua identidade ao desconhecido, como um plano para despistar os inimigos. Elise escolhe o pacato e sensível professor de matemática Frank (Depp), que está na Itália a passeio, e a partir dessa atraente sequência inicial, pode-se esperar todos os clichés possíveis dos filmes sobre “o homem errado”, só que com doses miseráveis de carisma e suspense.

Pra começar, uma “brincadeira despretensiosa” – expressão semelhante ao que muitos críticos usam para defender esse rascunho de cinema: qual gênero “O Turista” poderia ser classificado? Não me julguem, também acho arbitrário querer enquadrar um filme dentro de um gênero específico, considerando a natureza multifacetada de muitos projetos, mas acho válido, ao menos, citar uma das denominações até como um repasse de informação a outras pessoas interessadas. Eu sei, por exemplo, que a maioria dos votantes do Globo de Ouro se divertiu e conseguiram achar alguma graça nas piadas cretinas do filme a ponto de classificá-lo como uma comédia e indicar a produção em uma das categorias máximas da premiação. De acordo. Outras pessoas têm o livre arbítrio de achar um filme de ação, já que a trilha sonora de Howard é eletrizante – ótima de se ouvir no computador – e tenta convencer o espectador a todo custo de que as cenas de perseguição presentes no filme são mesmo empolgantes, o que eu discordo completamente. Achei de uma monotonia sacal e uma falta de ritmo que incomoda; poucas vezes presenciei uma sequência tão patética e desestimulante como aquela em que Elise tenta resgatar Frank com um barco nos canais de Veneza, o que me custou a acreditar que foram necessários dois montadores para executar esse trabalho ridículo – entre eles o duplamente oscarizado Joe Hutshing. A arma de defesa de muitos: “o filme não cai nos clichés dos filmes de ação norte-americanos, tem um ar mais europeu”. Hã? Assistam “Um Homem Misterioso”, com George Clooney, e depois conversamos.



Romance? Também pode ser, já que lá pelas tantas, dois indivíduos completamente diferentes acham um ponto em comum entre si e se apaixonam, trocam um ou dois beijos e o preço do ingresso do cinema só para ver Depp e Jolie se beijando já foi garantido. Minha versão: durante todo o filme, tive a impressão de ter um muro de 2 metros separando os atores em lados opostos, pois a química e o dinamismo entre o casal é nulo, inexistente e inexpressivo. Como se sentir fisgado e considerar “O Turista” um romance se o par que supostamente deveria ser romântico não passa de dois tocos de madeira? E pra comprometer ainda mais o projeto, parece que ninguém avisou à Jolie que ela deveria interpretar uma “agente da Interpol disfarçada para capturar o homem que ela ama (!)”, em vez disso, a atriz apenas faz exposição da sua figura, lambuzando os lábios de batom vermelho, vestindo roupas elegantes, mas exageradas para todas as ocasiões que aparece – foi mal, Atwood – e desfilando por entre os cenários para que todos os figurantes – que nem estes se salvam – cedam espaço para Mrs. Pitt possa desfilar. Linda? Uau, simplesmente deslumbrante, quem fala mal das curvas e dos olhares fatais de Angelina Jolie não bate bem da cabeça, mas este é um filme, e não um comercial da Dolce e Gabbana, oras. E Johnny Depp também não fica devendo em nada com sua performance absolutamente vergonhosa, sem dúvidas, a pior de sua carreira.

A única explicação (ou não) para uma direção tão mecânica e sem um pingo de autenticidade de von Donnersmarck talvez tenha sido a o peso da responsabilidade de estrear no cinema comercial norte-americano já dirigindo um filme com uma equipe monstruosa em termos de talento, o que naturalmente tenha brotado muita expectativa em cima da produção. No mais, por conta da sua estreia avassaladora no comando de “A Vida dos Outros”, ainda deposito alguma confiança no diretor. Seu próximo trabalho é que vai definir a que realmente veio. Enfim, exibindo uma história sem fôlego extraído de um roteiro primário e mal desenvolvido, “O Turista” simplesmente é um filme que não tinha razão de existir porque representa uma vergonha para todos os envolvidos, que, sem dúvidas, tem muito mais potencial do que essa porcaria, como diriam os defensores, de “caráter europeu”.


NOTA: 1,0


O TURISTA (The Tourist) EUA, 2010
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Roteiro: Florian Henckel von Donnersmarck, Christopher McQuarrie e Julian Fellowes
Elenco: Johnny Depp, Angelina Jolie, Paul Bettany, Timothy Dalton e Steven Berkoff

13 comentários:

Alan Raspante disse...

Ual, você acabou com o filme! Mas, mesmo eu não tendo visto, tenho a sensação de ser completamente dispensável.

Uma pena, já que tinha TUDOpara dar certo.

[]s

Mayara Bastos disse...

Faço as palavras do Alan as minhas: realmente você acabou com o filme! rsrsrs.

Mas, com razão, já que senti uma decepção quando vi o primeiro trailer, que não me despertou aquela vontade de assistir ao filme, principalmente pela falta de química entre Jolie e Depp. Uma pena mesmo! Vejo sem pressa!

Beijos! ;)

Amanda Aouad disse...

Pois é, esse filme é que nem aquele time de futebol que contrata vários excelentes jogadores que nunca treinaram juntos e os coloca em campo. Não tem mesmo como dar certo. Uma pena.

bjs

pseudo-autor disse...

Acabou virando um caça-níqueis de luxo com a presença de Depp e Jolie para arrancar o dinheiro dos espectadores. E pensar que o diretor realizou A Vida dos outros. Fazer o quê! Essas coisas acontecem...

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com

Paula Mariá disse...

Eu devo dizer que vim ao seu blog só para conferir se já tinha a crítica desse filme. Hahahaha

Sinceramente, ainda quero assistir só pela beleza do Depp e da Jolie. Em momento algum esperei algo a mais, mesmo sabendo que era do mesmo diretor de "A vida dos Outros", sei lá, não me convenceu.

E veja que escrevi Depp e Jolie separado porque não acho que eles combinem como casal. Depp faz mais o estilo Natalie Portman ou Juliette Binoche.

Alyson Santos disse...

Caraca, coitado!!
De tudo! Do filme, do Depp, da Jolie, do Florian Henckel von Donnersmarck também. Alias, com um resultado descrito assim é o diretor quem mais perde se expondo a tal, depois de fazer o filmaço que é A Vida dos Outros. O que era para ser a sensação no cinema me faz aguardar até eu poder assistir em casa.

E meu blog continua não subindo no seu Roll, mas ta atualizado!

http://cineaocubo.blogspot.com

Abraço!

Rodrigo Mendes disse...

Arrasou na crítica Elton. Faço coro a você. E já estou em fase de esquecimento desta fita.

Mas Depp e Jolie ainda tem créditos comigo. E acredito no diretor Von Dennersmarck, afinal quem fez um filme como ' A Vida Dos Outros' tem como fazer um próximo filme inesquecível. Enfim.


Abs.
Rodrigo

Reinaldo Glioche disse...

Vc argumentou muito bem Elton. E gostei da relação que desenvolveu com o bom Um homem misterioso. Mas por falta de definição melhor, me alinho aos críticos que enxergaram O turista como uma grande brincadeira (só não acho que foi despretensiosa, acho que teve até pretensão demais!).
Para mim o filme funciona.
Aquele abraço!

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

JÚRI DE CINÉFILOS

Olá.

O CINEBULIÇÃO o convida para fazer parte de um grupo de cinéfilos cuja intenção é votar e elencar temas relacionados à Sétima Arte para serem votados. Como Editor do blog, o meu objetivo é juntar um grupo de cinéfilos, para poder contar com eles a cada Lista que o CINEBULIÇÃO fizer. Caso aceite o convite, sua participação será a de jurado efetivo, ou seja, toda vez que eu for organizar uma lista, você será comunicado previamente, informado das regras e do prazo de entrega. A frequência das listas no CINEBULIÇÃO é de uma por mês ou por bimestre, dependendo da pauta diária do blog. Ao aceitar, você se compromete em participar de todas as listas para as quais for informado, exceto na ocorrência de sérios imprevistos; e também terá o seu nome, bem como a indicação do seu blog (se tiver) na lista de JURADOS CINÉFILOS do CINEBULIÇÃO.

Caso não for aceitar o convite, por favor, não publique esse comment.

Se for aceitar, envie um e-mail para: LULGO1@HOTMAIL.COM com os seguintes dados:

Título do e-mail: CONVIDADO PARA O JÚRI

Nome: (coloque o nome que você usa para assinar suas postagens no seu blog, ou seu nome completo, ou pseudônimo com o qual queira participar do Júri. Lembrando que apelidos libidinosos do tipo “Morenão Sarado” não serão aceitos).

E-mail oficial: (coloque o e-mail que você checa diariamente. É para ele que serão enviadas as regras para a primeira lista, e todos os outros comunicados do Júri).

Mini-currículo: (ou a chamada “sessão EGO”. Faça um pequeno apanhado das suas atividades, preferências cinematográficas, etc. Não coloque as empresas para as quais trabalhou ou seus desejos ocultos. Lembre-se que esse mini-currículo será exibido logo abaixo do seu nome, na lista dos Jurados.)

Cidade e Estado onde reside.

Caso não responder a esse convite até o dia 28/01/2011, seu convite para a participação do Júri de Cinéfilos do Cinebulição será anulado.


Um abraço. Obrigado.

E parabéns pelo convite. Isso significa que respeito e aprecio sua opinião sobre cinema.

Anônimo disse...

Poxa, Elton, perdi totalmente a minha vontade de ver o filme! rs

Sei la porque eu ja nao tava com grandes expectativas mesmo (apesar dos pontos fortes de elenco e tudo mais).

De qualquer forma, vc citou em pontos interessantes a respeito do filme. De qq forma, vou conferir quando chegar em DVD...

Abs!

Victor disse...

Mas é BEEEEM fraquinho mesmo hein! Cinema caça níquel!

Elton Telles disse...

ALAN: hahaha! Talvez a nota 1,0 tenha sido de consideração, viu. Filme deprimente, sem razão de existir. Um borrão no currículo de gente tão talentosa, mas, com o tempo todos vão se esquecer (ou não). Tem perfil de virar aqueles clássicos ruins, sabe?


Hehe, MAYARA, a falta de química entre Depp e Jolie é mesmo tão gritante que até no trailer dá para sentir a falta de sintonia e dinamismo entre os atores, não é? Sim, veja sem pressa, porque você não vai estar perdendo nada e salvando 90 minutos de sua vida =)


Gostei da analogia, AMANDA. É tipo isso. Achei uma puta falta de compromisso entre os envolvidos. Angelina Jolie, por exemplo, topou fazer pq sabia que as filmagens iriam ser em poucos dias. Tipo...?


PSEUDO-AUTOR: acontecem mesmo, e isso não tira o direito de nenhum blogueiro criticar isso abertamente, não é? =D


Olá, PAULA! Se vai para conferir a beleza dos protagonistas, aí você está com o filme ideal em mãos. Depp não me impressiona, mas Angelina Jolie está mais bonita a cada take. Deslumbrante mesmo! Aliás, interessante Depp com Portman ou Binoche, hã? Já viu "Chocolate"? ;)


ALYSON: idem! De todos, o que mais me dói é o alemão se metendo nessa fu-ra-da. Espero que isso não venha a rebaixar o seu nome e que ele consiga projetos mais interessantes futuramente - dentro ou fora de Hollywood.


Valeu, RODRIGO. Também gosto de Depp e Jolie. Ele mais pelo talento, ela porque tem uma magia que, sei lá o que acontece... rs. Admiro demais! rs


Obrigado, caro REINALDO. Bacana que apesar de termos pontos divergentes, tu não cai matando criticando o meu texto. Um true gentleman vc é ;D


NATHALIA, me desculpe rs. Mas veja em DVD mesmo, sem pressa, no conforto da sua casa, deitada no sofá, com um travesseiro bem confortável, luzes apagadas e talz. Não se esqueça de tomar um chazinho antes...


VICTOR [2]. É bem isso o que o filme é.


ABRAÇOS A TODOS!!!

Mateus Denardin disse...

Concordo com tudo que você apontou, e não teria como ser diferente. Um filme que reuniu tantos talentos ser tamanha decepção é algo a ser estudado. Se Jolie está mastigando os cenários, Depp também teve seu momento-propaganda (e nunca vou esquecer esta cena!): quando ele acende um cigarro de verdade, numa praça, e caminha em câmera quase lenta em meio aos pombos. Embora tenho achado fraco, não considerei um desastre, e minha nota foi mais condescendente. Dei 4/10