Durante as filmagens de “Boa Noite, e Boa Sorte”, o diretor responsável pelo projeto, George Clooney, foi vítima de chantagens diretas advindas de estúdios, que o ameaçou alegando não distribuir mais nenhuma produção que o ator integrasse o elenco se ele não interrompesse as gravações do filme em questão. Tal covardia se explica pelo conteúdo corrosivo do roteiro, que embora retrate um verídico episódio ambientado nos anos em que os EUA viviam cobertos pela nuvem negra do Macartismo, “Boa Noite, e Boa Sorte” reflete uma crítica mordaz ao governo Bush. Dessa forma, os republicanos mais conservadores se sentiram emparedados e aproveitaram do poder que detinham na indústria para censurar o desenvolvimento do filme politicamente engajado. No entanto, “Boa Noite, e Boa Sorte” era um filme independente, financiado pelo bolso dos próprios envolvidos e mesmo que tenha patinado para que uma distribuidora demonstrasse interesse, felizmente a finada Warner Independent Pictures comprou os direitos e, em 2005, o filme foi lançado nos cinemas. Resultado: 6 indicações ao Oscar, 4 indicações ao Globo de Ouro, 5 prêmios conquistados no Festival de Veneza e uma nova reputação ao astro George Clooney, que, até então, só detinha o título de galã. Corajoso e pungente, “Boa Noite, e Boa Sorte” é uma aula de jornalismo, mas não é restrita apenas a essa classe, é obrigatório para todos que apreciam cinema de qualidade.
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BLOW UP - DEPOIS DAQUELE BEIJO (1966)
Obra mais conhecida da admirável filmografia do italiano Michelangelo Antonioni, “Blow Up” se enquadra facilmente na série de filmes que gostamos ainda mais a cada conferida. Afinal, o espectador tem a oportunidade de fazer a digestão do conteúdo reflexivo e adquirir mais familiaridade com a riqueza de detalhes presentes no filme – que passam despercebidos –, sendo capaz de chegar a interpretações distintas devido à ambiguidade apresentada pelo roteiro. “Blow Up” não fornece respostas fáceis e ainda enche o espectador de dúvidas e incertezas, mas é uma experiência deliciosa porque Antonioni realiza um trabalho magistral na direção, conduzindo a trama com firmeza ao mesmo tempo em que permite brincar”, convertendo o filme em um brilhante trabalho autoral. Cenas memoráveis – do parque, das sessões de fotografia e, sobretudo, do tênis imaginário – envolvem o espectador, ainda que o mesmo não tenha noção do que está acontecendo na cena. A questão é que “Blow Up” não é mesmo um filme para ser compreendido, mas para ser apreciado e encarado como um brilhante objeto de veneração.
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MERA COINCIDÊNCIA (1997)
Para cobrir uma acusação de abuso sexual cometido pelo presidente norte-americano, a poucas semanas da eleição, quando tenta se reeleger e permanecer no cargo por mais quatro anos, é convidado um especialista, que vai auxiliar nas táticas da assessoria de imprensa da Casa Branca para que a mídia ignore o ocorrido. O que eles planejam? Inventam uma guerra fictícia entre os EUA e a Albânia – justamente porque ninguém conhece esse país – para que o foco do assédio sexual seja desviado, pois todo mundo, sobretudo os norte-americanos, parece que adoram uma guerra e acompanham sempre com olhos atentos os ataques e explosões nos noticiários. Além das atuações pontuais e divertidas de Robert De Niro, Anne Heche, Woddy Harrelson e, principalmente, do hilário Dustin Hoffman, é do cineasta David Mamet e da roteirista Hilary Henkin o grande mérito do filme. Dirigido pelo competente, mas talvez superestimado, Barry Levinson, “Mera Coincidência” faz da antiética no exercício do jornalismo, uma das comédias mais inteligentes, proveitosas e ácidas dos últimos anos.
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TROPA DE ELITE 2 (2010)
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REDE DE INTRIGAS (1976)
Ao ser lançado, em meados da década de 1970, “Rede de Intrigas” foi prontamente comparado como um “Cidadão Kane” moderno. Os motivos para tal comparação foram inúmeros, desde o trabalho magistral do diretor Sidney Lumet, da brilhante adaptação feita pelo roteirista Paddy Chayefsky – muitos críticos consideram o melhor texto já escrito para o cinema, e eu não lhes tiro a razão – e do elenco em total sintonia, cada um mais monstruoso que o outro. Peter Finch está possuído em cena, mergulha totalmente na alma perdida de seu insano personagem, e a vontade é se levantar do sofá e aplaudir seus ataques histéricos que dá nos programas de TV. Da mesma forma, o elenco invejável composto por William Holden, Faye Dunaway (sou apaixonado pela ambiciosa Diana Christensen, uma das personagens mais ordinárias que já vi no cinema), Robert Duvall, Beatrice Straight, dentre outros atores que rendem verdadeiros shows de atuação. “Rede de Intrigas” é um tapa na cara da sociedade consumista e bem na época do boom da televisão, criaram um filme excepcional que critica esse meio alienado que manipula as pessoas que o assiste. Recheado de cenas memoráveis e com uma inteligência de concepção voraz, “Rede de Intrigas” se estabelece como um verdadeiro clássico do cinema. Para ver e rever sempre.
Obs. Esse seria o quinto filme a ser comentado dessa série, mas não houve programa no dia. Mas eu escrevi o texto e não quis desperdiçar.
O Cinema Falado é um programa semanal transmitido pela Rádio Universitária Cesumar. Atualmente na 5ª temporada, toda sexta-feira o trio de apresentadores cinéfilos – eu, Thiago Ramari e Marcelo Bulgarelli – seleciona um filme para que seja colocado em discussão, contanto que o escolhido se enquadre dentro da série mensal estabelecida pelos produtores. Tentando ser justo em abranger os diversos segmentos cinematográficos, o Cinema Falado não se restringe a filmes comerciais, nem aos considerados cult, pois tudo faz parte do mesmo balaio dessa arte que todos nós adoramos – uns mais que outros, mas viver de preconceito pra quê? Desde Bergman até Michael Bay, tudo que envolve o mundo do cinema é assunto para um papo descontraído e com muito bom humor. Para dar um toque especial, a trilha sonora do filme em questão acompanha a conversa de fundo e algumas canções/composições são ouvidas durante os intervalos.
O ouvinte é peça fundamental do programa, afinal a participação e interação de outros cinéfilos é deveras importante para buscarmos novos horizontes acerca do mesmo tema. Sinta-se livre para indicar os filmes e participe também do nosso programa.
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6 comentários:
The Network e Good Night And Good Luck já são clássicos do cinema. São ótimos filmes e os melhores sobre o tema. Ainda não vi Blow up, mas já vou anotar na minha lista.
Parabéns pelo blog!
Desta lista, três filmes são interessantes ao mostrar os bastidores do poder e da mídia, principalmente a luta daqueles que tentam ser independentes e tem de enfrentar forças poderosas.
Dois deles, "Boa Noite, Boa Sorte" e "Rede de Intrigas" são críticas ferozes ao poder da mídia e "Mera Coincidência" é praticamente uma comédia sobre o poder, faz rir ao mostrar situações absurdas de manipulação.
Até mais
Bons Filmes! Faltou nessa lista O Informante, do Michael Mann, que virou até tema de aula em universidade americano (em Harvard, se não me engano!).
Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Olá Elton!
Tô devendo como ouvinte, rs! Mas agora que terminei o TCC vou acompanhar o programa mais vezes!
Bom, sua lista é ótima. Todas as fitas ai apresentadas são fundamentais para estudantes de comunicação, sobretudo Boa Noite e Boa Sorte de George Clooney. Um filme lindamente fotografado ( o que é piegas dizez, rs).
Alias, Clooney sempre se mostrou um excelente diretor. Até mais que ator (exceto em filmes como Up In The Air que superou).
Abs.
Rodrigo
Ótimas lembranças Elton. Aliás, aproveito, novamente, para louvá-lo (e a seus colegas) pelo programa.
Quanto aos filmes, o cinema têm sido assertivo no tratamento da mídia e da atividade jornalística. Há, além desses, ótimos filmes com esse recorte. Destaque para os excepcionais A montanha dos sete abutres, O informante, O quarto poder, Intrigas de estado e O diabo veste Prada.
Abs
Obrigado, Película.
assino embaixo da suas observações e assista "Blow Up" pra ontem! Obrigação cinematográfica =)
Hugo, cada um, à sua maneira, fazem críticas ácidas ao poder das mídias e a manipulação que exerce sobre as pessoas. Todos ótimos, no meu ponto de vista.
Olá, Pseudo!
Exatamente, "O Informante" seria um filme indispensável, mas já fizemos um programa sobre ele em outra série, portanto não poderíamos repetir. Não só em Harvard, mas meu professor também já exibiu o filme de Mann na minha sala para falar sobre ética. Filme fantástico!
Ae Rodrigo, prazer você nos ouvir.
A fotografia de "Boa Noite, e Boa Sorte" realmente é arrasadora e o filme é uma aula de jornalismo mesmo. Clooney e Ben Affleck, duas surpresas atrás das câmeras, poderiam continuar por lá, quem sabe rs.
Dae, Reinaldo!
poxa, muito obrigado pelas suas palavras. O Cinema Falado funciona como a minha terapia semanal rs. Belos filmes esses que você citou, com destaque para "A Montanha dos 7 Abutres", um argumento brilhante da manutenção da notícia. Muito bom!!!!
ABS A TODOS!
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