Regra principal para elaboração do ranking: NÃO SERÃO INCLUSOS MUSICAIS. Decidi excluir esse gênero porque é até um pouco óbvio, levando em consideração que a maioria dos musicais constrói suas tramas baseadas em performances e sequências de dança espetaculares que irão explodir durante o filme a qualquer momento, sem contar que muitas vezes escalam atores que possuem uma boa voz para cantar – com exceção de Johnny Depp, que comprovou que nem todo ator é completo. Há!
Enfim, pra ser conciso, o que eu definiria como uma “cena musical”? Basicamente, um(a) ator/atriz cantando uma canção em um filme que não seja pertencente ao gênero musical, além dessas cenas serem bem encaixadas no filme e que revelem algum significado orgânico para a trama. Sendo assim, estabeleci algumas normas para tais cenas serem classificadas para essa Cinelista:
1 – O(A) ator/atriz tem mesmo que ser o dono da voz que se ouve. Não precisa ser um Pavarotti, mas a voz tem que ser autêntica. E playback é permitido.
2 – Ou melhor, não pode ser Pavarotti, nem qualquer outro cantor(a) profissional que se arrisque nas telonas. Essa Cinelista é exclusiva para atores.
3 – A cena em si também é avaliada. Tanto isoladamente quanto a sua relevância para com a história do filme – e para a história do cinema.
Recomendação: apertem o play e aumente o volume...
10) Diane Keaton em “Annie Hall” (1977)
Canção: “Seems Like Old Times”
Depois da desastrosa apresentação de “It Had to Be You” em um clube nova-iorquino, Annie Hall volta aos palcos mais segura e, com sua voz suave e olhares que deixam qualquer homem intimidado, ela entrega uma performance simultaneamente sexy e pueril. Ao ouvir os aplausos, é a vez de ela ficar enrubescida com o show que acabara de entregar, finalizando com um “thank you” acuado e tímido, cujos agradecimentos, com justiça, mais partem do público do que realmente da intérprete. Não tem como desviar os olhos dessa cena, da mesma forma que a câmera de Woody Allen se mantém fiel em mostrar a apresentação na íntegra e sem cortes. E outro fator que contribui para o sucesso dessa sequência musical é a beleza incontestável da jovem Diane Keaton, em seu grande papel de destaque no cinema. Apesar da insegurança e distração da personagem, tem que fazer muito esforço para não se apaixonar por Annie Hall.
9) Mike Myers e Dana Carvey em “Quanto Mais Idiota Melhor” (1992)
Canção: “Bohemiam Rhapsody”
A melhor definição para esse filme está no próprio título. E isso, acreditem, é um baita elogio. Wayne e Garth formam uma das duplas mais engraçadas já vistas em comédias. Antes de estrelarem o programa televisivo “Wayne’s World” e lutarem contra Rob Lowe para conquistar o coração da headbanger nipônica interpretada pela atriz Tia Carrere, os amigos inseparáveis, durante os créditos iniciais, ressuscitam o clássico hino do rock “Bohemiam Rhapsody”, famoso na voz do icônico Freddy Mercury, em uma das cenas mais famosas dos anos 90. Essa cena fez tanto sucesso que só os marcianos não a imitavam na época, e até hoje tem malucos que a reproduzem quando entram em um carro acompanhado de um amigo (cri cri cri). Mais uma vez a diretora Penelope Spheeris presenteia o público adolescente com um filme vigoroso e representativo da juventude daquela época, além de extremamente bobo e engraçado. Certamente, o espectador não vai escutar essa música do Queen da mesma forma.
8) Bette Davis em “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” (1962)
Canção: “I’ve Written a Letter to Daddy”
Os dotes artísticos que possui como atriz, certamente Bette Davis não os repetiu como cantora. Mas quem se importa? É justamente sua voz aguda e desafinada que imortalizou a bizarra cena em que cacareja “I’ve Written a Letter to Daddy”. Com uma voz insuportável de taquara rachada e usando um vestidinho branco aparentemente inocente, a esquizofrênica Baby Jane Hudson canta uma das canções que lotavam as casas de shows quando se apresentava ainda criança. A cena musical, ao lado da bandeja com a ratazana, é uma das mais famosas do filme, que ainda finaliza com uma dancinha exótica e sedutora (hahaha). Tenham medo. Crente de que está arrasando, a convicção da personagem-título é evidenciada pelo talento descomunal de Davis, que rouba o filme inteiramente para si.
7) Justin Bond em “Shortbus” (2006)
Canção: “In the End”
Controverso, polêmico, chocante e escatológico. “Shortbus” é uma incógnita no cinema contemporâneo, e não desmereço àqueles que alimentam certo distanciamento do filme, considerando-o uma pornografia gratuita ridícula e desnecessária. Particularmente, acho um filmaço desafiador e que exige muito do espectador, principalmente em se despir de qualquer preconceito e abrir a mente e o coração. Ainda que seja naturalmente devasso, é um filme sobre o amor, o que é realmente contraditório. Mas não digo o amor entre duas pessoas – digam não à monogamia! –, mas o amor para com a vida em geral, a explosão da felicidade e do entusiasmo, a convivência em harmonia e comunhão. Tudo isso pode ser facilmente identificado na apoteótica cena que finaliza o segundo filme do talentoso John Cameron Mitchell. É praticamente impossível ficar indiferente a essa cena, ainda mais quando o espectador acompanha todos os percalços percorridos pelos personagens no decorrer do filme. Marcante e único, final contagiante e laudatório. Difícil assistir sentado.
6) Rita Hayworth em “Gilda” (1946)
Canção: “Put the Blame on Mame”
“A maioria dos homens dormiam com Gilda, mas acordavam com Rita Hayworth”. Nossa, eu sinto pena desses homens... Francamente, que roubada foram se meter, hein? Uma das cenas mais sensuais e provocantes da história do cinema, Gilda entra no clube lotado, dança e canta “Put the Blame on Mame”, que tem uma letra que se opõe completamente ao sex-appeal de sua intérprete e, mesmo assim, arranca suspiros do público masculino. O figurino generoso, o penteado rigidamente conservado, os lábios voluptuosos e a sensacional cena em que a personagem-título retira as luvas, encarando a câmera/espectador e mexendo com a imaginação dos homens; tudo não passa de um jogo de sedução irreversível. A grande estrela é Hayworth, mas o diretor húngaro Charles Vidor também merece créditos pelos closes fabulosos que ressaltam ainda mais a beleza de Gilda e dá um quebra no distanciamento da cena. O espectador, aqui, é privilegiado com essa aproximação fantástica, resultando em uma das cenas mais orgásticas do cinema, que deixa Sharon Stone comendo poeira.
5) Eric Idle e os crucificados em “Monty Python – A Vida de Brian” (1979)
Canção: “Always Look on the Bright Side of Life”
“A Vida de Brian” é uma obra-prima incontestável e antológica. É um dos filmes mais engraçados e hilários que já assisti e considero, apesar das acusações de blasfêmia levantadas pela Igreja Católica, um filme que deve ser assistido por todos, independente das doutrinas religiosas que creem, por ser uma sátira inspirada de uma história universal. Ao ser confundido com Jesus Cristo e ser exaltado como Messias, Brian posteriormente é crucificado ao lado de dezenas de insurgentes. É então que ele se depara com um bandido otimista, que lidera o coro de “Always Look on the Bright Side of Life”. A cena é muito engraçada, absurda por natureza e nonsense. Exatamente como o filme. Explicar pra quê, né? Aperte o play!
4) Elenco de “Quase Famosos” (2000)
Canção: “Tiny Dancer”
O filme de Cameron Crowe é embalado por uma trilha sonora excepcional, que vai de Simon and Garfunkel, passa por The Who, esbarra em Beach Boys e Jethro Tull, compilações de Deep Purple, David Bowie e Fleetwood Mac, e com canções de Neil Young e Led Zeppelin. Tudo o que tem mais de bacana no rock faz parte da trilha de “Quase Famosos”, e chega a ser estranho escolher justamente a cena em que toca Elton John (!) em meio a tantas bandas lendárias. Mas não é pra menos. Quem assiste, não se esquece. “Tiny Dancer” representa, junto à cena da turbulência no avião, momentos que imortalizaram esse filme mágico. O personagem de Billy Crudup está em crise com o Stillwater, banda em que é guitarrista, e depois de uma noite de farra, seus amigos vão atrás dele. Em vez de os pedidos de desculpas virem com uma cena comum, a redenção vem através da música na bela cena em que todos da banda, os roadies, as groupies estão a bordo do ônibus Doris e cantam em coro. Por quebrar o esquema tradicional do roteiro, ser uma ode à música em geral e fazer com que Elton John pareça um bom cantor rs, o filme de Cameron Crowe fica em 4º lugar.
3) Julie Delpy em “Antes do Pôr-do-sol” (2004)
Canção: “Waltz for a Night”
Celine é uma das personagens femininas mais interessantes que eu já vi no cinema. A preocupação do espectador por ela e pelo destino do casal é genuína, já que as conquistas e frustrações amorosas de ambos são narradas com tanta convicção e riqueza de detalhes que nos tornamos totais cúmplices e testemunhas do relacionamento dos dois, prejudicado pelo tempo, pela ingenuidade e, principalmente, pela falta de comunicação voluntária. Se antes a mulher se mostrava completamente frustrada e sem esperança para que a chama do amor se acendesse novamente, ao corresponder um pedido de Jesse – interpretado por Ethan Hawke – de tocar uma de suas composições, eis que o espectador – e o rapaz – é brindado com a belíssima e inesquecível “Waltz for a Night”. E Julie Delpy, como quase sempre, é formidável.
2) Malcolm McDowell em “Laranja Mecânica” (1971)
Canção: “Singin’ in the Rain”
“Horrorshow!” Escolhi “Laranja Mecânica” pela doentia cena em que Alex e seus companheiros calhordas invadem a mansão de um casal burguês. Na residência, eles espancam o homem e o faz assistir de camarote o estupro da própria mulher, que também é surrada e tem sua roupa friamente cortada por uma tesoura estrategicamente nas partes íntimas para satisfazer os prazeres do jovem delinquente. É uma cena revoltante ao mesmo tempo assustadora. E para enaltecer a indignação do espectador, o protagonista começa a cantarolar “Singin’ In the Rain”, canção que ficou famosa na voz de Gene Kelly no filme homônimo. No clássico musical de 52, Kelly expressa sua alegria ao finalmente se relacionar com a personagem de Debbie Reynolds. No filme de Kubrick, a inclusão da música torna a cena ainda mais traiçoeira e repulsiva. É ou não é um clássico?
obs. O vídeo que está aí não é da cena específica, porque não encontrei nenhum que permitisse a incorporação do link. Mas pra quem quer assistir, é esse aqui.
1) Elenco de "Magnólia" (1999)
Canção: “Wise Up”
“... so just give up”.
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31 de ago. de 2010
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12 comentários:
Primeiramente deixe-me congratulá-lo pelo novo visual do blog. Ficou bacana. Parabéns pela nova fase do Pós-premiere.
Agora que lista é essa hein?! Adorei os critérios, os filmes escolhidos e suas justificativas apaixonantes (embora eu não concorde com todas).
As duas primeiras posições então chegam a reluzir tamanha a perfeição da distinção feita por você.
Para não ficar só na rasgação de seda, não acho que Johnny Depp tenha comprometido assim em Swenney Todd. Pior o foram Meryl Streep e Pierce Brosnan em Mamma mia.
Enfim, show de bola essa cinelista. Acho que bate a dos clássicos da sessão da tarde e das piores mães do cinema.
Abs
Oi cara!
Gostei do novo visual Pós-Première, embora eu deva confessar que também gostava do antigo com aqueles cartazes de filmes, hehe e filmes que tenho predilação. Mas as mudanças são sempre bem vindas!
O post está ótimo. Eu sei que da trabalho selecionar, caçar os vídeos e escrever sobre cada um deles. Eu fiz ano passado a lista dos 50 FILMES FANTÁSTICOS e cara deu trabalho, mas o pessoal adorou e ainda acessa bastante, vejo pelo Feed. Gratificante.
Bom, achei um boa idéia abordar cenas musicais em filmes não musicais, visto que a música é o coração do filme.
Colocaria a Rita Hayworth no topo seguida por Bette Davis. Confesso que tenho um tesão por clássicos e divas, rs! Mas 'Magnólia' é um filmaço só com esta cena. O mais bacana, exceto a Rita Hayworth, os atores são péssimos cantores, rs! Mas gosto das performances desta lista (principalmente Davis) e até os idiotas Myers e Carvey!
Concordo com o Reinaldo quanto ao Johnny Deep em Sweeney Todd e discordo quanto a Streep e Brosnan em Mamma Mia! Rs!
Gosto também da Diane Keaton neste clássico do Woody Allen e a Bette Midler né? Cadê? Lembrei dela, hehe.
Eu queria é ver a cena do Laranja Mecânica..saiu uma montagem irritante no vídeo! O Malcolm canta mal, mas esta
cena que você descreve é o momento chave da fita de Kubrick.
O Monty Python é formidável adoro esta cena e a canção Always Look on the Bright Side of Life'esteve presente em 'Melhor é Impossível' e tem uma cena ótima com Jack Nicholson tocando no piano.
'Shortbus' também é ótimo, asssiti algumas vezes e 'Quase Famosos' é um charme esta cena, uma das melhores dos filmes contemporâneos.
Enfim...são muitos os filmes!!!
Te parabenizo. Gostei da Cinelista e quero rever 'Antes do Amanhecer' e 'Antes do Pôr-do-sol'. Não sou muito deste tipo de romance e filme,mas quando o filme é bom há excessões. Delph é realmente cultuada como Celine!
Abraços,
Rodrigo
Oi Elton!
Acho a cena de "Magnólia" incrível, todos cantando WISE UP, em diversos lugares e situações diferentes, ficou mesmo muito bacana!
Mas, eu fico com a cena de "Laranja Mecânica", por mais que a situação seja degradante, eu consigo rir um pouco da situação, sem contar que é muito irônico a cena do estrupo com ele cantando "Singin’ in the Rain”, haha. Sem mais!
Ótima lista!
PS: Novo endereço :"http://www.cigarrosefilmes.blogspot.com/", tive que fazer outra conta. minha antiga, foi hackeada. Não tenho mais acesso. Enfim, é isso!
Abs.
Esqueci de comentar. Ficou ótimo o novo layout. Está de parabéns =)
PS: gostei ainda mais de ver que não é preto..doia muito as minhas vistas, hahahaha.
Elton, Parabéns!
Adorei a cara nova do blog!
Principalmente agora que as letras estão maiores!
Hehehehehe
Puxa, deve ter dado um trabalhão esse post mesmo!
Está fantástico, meu amigo!
Um grande abraço!
Ah... O DC não merece ocupar mais lugar na coluna dos blogs do Pós.Première?
Rsrsrsrsrsr
=)
Reinaldo, Streep está ótima em Mamma Mia (é o filme que é vergonhoso)! Se não fosse atriz, ela seria cantora clássica! Pelo que sei, ela estudou música a partir dos 3 anos de idade! E parece que todos os diretores elogiam seu talento vocal! Segundo a diretora e atores de Mamma Mia, Streep contagiava no set, pois era a única que cantava, de verdade, em cena! Enfim, gosto se discute, sim! Mas, claro, respeito tua opinião! Abraço pra ti também!
;)
O seu top 5 da lista está simplesmente PERFEITO!!!!
visual novo, e como sempre com ótimas escolhas. me senti um caco, só vi as três primeiras posições, que por sinal, são ótimas, excelentes, exepcionais!
Oi Elton...
Confesso que quando li o titulo do post, achei que fosse um ranking das melhores cenas de musicais, mas adorei a ideia de rankear cenas musicais de filmes não-musicais...adoro!! Bom, a maioria dos longas da lista ainda não foram assistidos por mim, mas gostei muito dos seus critérios de seleção...parabens..abrs
Gilda é eterno! E a do Quanto mais idiota melhor também é muito boa. Tem uma do Gerard Butler no P.S eu te amo que tambem vale a pena. Procure!
Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Grande Cássio, tb acho que gosto se discute sim. Sempre pautando-se pelo respeito e bom senso como você bem sinalizou, não acho que Meryl esteja mal em Mamma mia (na minha opinião ela é aúnica coisa que salva), agora, também não acho que ela esteja cantando bem. Dentro da minha modesta concepção musical, penso que atrizes como Nicole Kidman e Marion Cottilard saíram-se melhor na seara musical.
grande abraço!
Elton
parabéns e obrigado por ter colocado os vídeos aqui para que a gente acompanhasse o texto com as músicas!
Muito bom
Abraço
Vitor Silos
www.volverumfilme.blogspot.com
"Wise Up" é mesmo suprema.
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