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20 de abr. de 2010

Atividade Paranormal


“Atividade Paranormal” é um sucesso inexplicável. Filmado em apenas 10 dias, na própria casa do diretor (o estreante Oren Peli), amparado por um orçamento que não paga nem os figurantes de uma megaprodução (estima-se cerca de US$15 mil), o filme conseguiu a proeza de se estabelecer como um dos mais rentáveis da história do cinema – arrecadando somente nas bilheterias norte-americanas mais de US$100 milhões – e ainda já foi anunciada uma sequência, que será dirigida por Tod Williams (de “Provocação”). Alguns dizem que foi sorte, outros afirmam que foi puro lobby, e há os que arriscam como palpite a publicidade e marketing pesado, e justificam sua teoria com o fato de que o cineasta Steven Spielberg foi um dos padrinhos do longa. Mas, na verdade, qual foi o segredo desse sucesso instantâneo? Por que foi criado tanto alarde sobre este filme e tantos outros muito mais eficazes e amedrontadores como “Abismo do Medo” ou “Wolf Creek”, por exemplo, foram praticamente relegados ao esquecimento? Talvez nem a ciência seja hábil a responder essa pergunta, quem dirá os fenômenos sobrenaturais. Brincadeiras à parte, confesso que “Atividade Paranormal” possui uma ideia fantástica e uma premissa interessante, capaz de aterrorizar a muitos espectadores. No entanto, é lamentável que essa oportunidade tenha sido desperdiçada pelos realizadores, já que o terror insuficiente é constantemente alternado com a monotonia e comprometido por personagens extremamente aborrecidos.

Roteirizado pelo próprio diretor, o filme acompanha alguns dias do jovem casal Micah (Sloat) e Katie (Featherston), que moram juntos no mesmo sobrado há pouco tempo. Durante algumas noites, eles passam a testemunhar estranhos incidentes, que um médium em visita à residência a certa altura da trama, revela que esses estranhos episódios são manifestações de um espírito demoníaco alojado sob o mesmo teto. Dispostos a enfrentar a maldição, o corajoso casal resolve instalar câmeras em alguns cômodos da casa, inclusive uma no próprio quarto para documentar e flagrar algum acontecimento durante a madrugada, enquanto estão adormecidos.

Empregando a câmera subjetiva como o principal componente da narrativa, “Atividade Paranormal” é beneficiado pelo tom documental pelo qual é abordado. Os tremidos movimentos da câmera e a luz natural do ambiente traduzem uma energia e estética mais palpável para a história, consequentemente aumentando o realismo da trama e insinuando que o demônio ronda aquela casa por infortúnio do próprio casal, quando, na verdade, ele poderia assombrar a casa de qualquer indivíduo comum – inclusive a do espectador. Nesse sentido, o filme se aproxima muito de “A Bruxa de Blair”, outro projeto realizado com orçamento baixíssimo e que foi uma das maiores bilheterias de 1999. Ambos os filmes transmitem a sensação de que “podemos ser os próximos”. Claro, a dimensão dessa possibilidade varia de acordo com as crenças de cada espectador, mas os dois projetos são relativamente bem sucedidos em desafiar a imaginação de cada receptor.

Porém, diferentemente do filme que traz os jovens que se perdem na floresta, esse novo exemplar do “cinema mainstream experimental” não mantém um ritmo de tensão pretendido para que o espectador não desvie o olhar. Curiosamente arrastado apesar dos 86 minutos de duração, “Atividade Paranormal” investe em situações constrangedoras e pouco exploradas para tentar (em vão) criar um clima de tensão, como o tabuleiro Ouija em chamas durante as gravações de vídeo ou a ida a um compartimento localizado no teto da casa. O roteiro mal distribuído falha na evidente pretensão de provocar medo ou arrepio, pois, embora se diferencie dos demais filmes atuais do gênero, que jorram sangue e se deleitam sobre efeitos visuais, é frustrante perceber que as melhores passagens do filme são abruptas, pouco aproveitadas e inconclusas; quando alguma boa cena emerge, não demora muito para o espectador voltar a acompanhar o tedioso cotidiano do casal desinteressante. Sem contar que há cenas que prevalecem o humor involuntário – e isso é crucial para um filme deste gênero.

Acredito que essa percepção seja unânime: não tem coisa mais irritante em um filme de “terror” (e toma aspas!) do que ser protagonizado por personagens estúpidos. “Atividade Paranormal” se empalidece diante da indecisão e burrice dos protagonistas que estão à frente do projeto. O roteiro pouco se importa em torná-los mais humanos, e apresenta uma desculpa insatisfatória para que o casal permaneça encarcerado no recinto onde está o espírito maligno. Afinal, por que eles não abandonam de vez o lugar ou procuram auxílio de outras entidades religiosas ou dividam as experiências com os amigos, a fim de encontrar socorro? Mas não, em alguns momentos até evitam tocar no assunto, apoiando-se na inútil decisão de documentar as ocorrências com uma câmera caseira, e tentando, sozinhos, derrotar a alma amaldiçoada.

Praticamente jogando uma boa sacada no lixo, “Atividade Paranormal” suscita a curiosidade, mas não passa de mais uma produção superestimada que não coloca medo nem em cachorro. O demônio do filme foi o hype que fizeram em torno dele.

NOTA: 4,5

ATIVIDADE PARANORMAL (Paranormal Activity) EUA, 2009

Direção e Roteiro: Oren Peli

Elenco: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Friedrichs e Amber Armstrong

8 comentários:

Francisco Brito disse...

Finalmente um texto falando mal de algum filme hauahauahuahaua,mt bom[o texto,não o filme:P´]!

Cristiano Contreiras disse...

Filme amplamente bobo.

Dr Johnny Strangelove disse...

Sinceramente, de longe o melhor filme de horror de 2009. Muitos reclamam por não ser em nenhum momento cinema ou algo do tipo. O filme mexe muito com duas coisas fundamentais que a cada momento está sendo esquecido no cinema americano que é a falta de criar algo interessante e principalmente com o desconhecido na palavra plena.

O filme tem elementos que causam medo para eles e também resgata esse medo para qualquer espectador. E além disso ... Abismo do Medo só assusta a parte da caverna porém quando passa para a segunda parte é bem qualquer coisa e dificilmente ser lembrado como assustador, só se o proprio espectador ter medo do escuro. Já Wolf Creek tem um ponto fundamental em criação de horror já que é uma história real, já que nos ultimos anos é muito mais plausivel utilizar elementos reais que dão medo em qualquer espectador.

Atividade Paranormal não pode ser cinema mas é extremamente fiel a proposta no qual apresenta. Para muitos pode ser esquecivel. Porém para mim vai aquele projeto que mostra que cinema não é necessario gastar rios de dinheiros ou ter um elenco uber estrelar ... é só apenas ter uma boa ideia e uma camera a mão ...



Ps: o final do cinema foi alterado a pedido de Spielberg ...
Abraços

Fernando disse...

Gostei muito de Bruxa de Blair. As outras tentativas parecidas como é o caso de Atividade Paranormal, me parece repetitivo na fórmula, não gerando qualquer efeito assustador sobre mim. Até que o enredo é bom, mas há repetição da cena do quarto de madrugada é exaustiva e não trás nenhum medo aos telespectadores.

Anônimo disse...

Ué, cadê a tal tensão? Falho, simplesmente faltou algo!

Reinaldo Glioche disse...

Concordo plenamente! Minha única discordância de seu texto remete A bruxa de Blair. Para mim, aquele filme tb é aborrecido. Não consegue elaborar tensão tb. Só é um tantinho melhor que Atividade paranormal, talvez pela primazia.

Grande abraço!

Elton Telles disse...

Grande Chico! Hahahaha, tento não perder meu tempo com porcarias (acredite se quiser :p), mas essa frustração tinha que ser publicada, já que o hype em cima deste filme é paranormal (com o perdão do trocadilho).


Cristiano, bobo e meio.


Olá Johnny Strangelove (I can walk!),
valeu pelo seu comentário!
Como disse na crítica, o filme é feliz em provocar a imaginação do espectador, pois não se sabe ao certo do que se trata o bicho por trás de tudo aquilo. Nesse caso, o "desconhecido" é eficaz no filme, sim. A minha ressalva é que o filme não soube trabalhar muito bem com o excelente argumento que tinha. "Atividade Paranormal" resultou num desperdício de uma grande ideia, pois a monotonia assalta a tela, diferentemente de "A Bruxa de Blair", por exemplo, que mantém o clima de tensão constantemente.

Nossa, eu quase me borrei em "Abismo do Medo", e não por ser um filme mergulhado no escuro, mas a sensação de claustrofobia, o desespero daquelas garotas é contagioso rs. E "Wolf Creek", pra mim, é um pequeno clássico do terror - sem dúvidas, será lembrado num futuro próximo.


Olá Fernando, concordo plenamente com o seu comentário. A fórmula pode soar repetitiva, mas se tem um bom enredo (como vc mesmo disse e eu concordo), acho super válido. Porém, "Atividade..." não foi feliz no seu percurso.


Oi Cabaret.
Faltou muuuuita coisa mesmo.


Dae Reinaldo!
Ah, sou suspeito pra falar: "A Bruxa de Blair" eu acho muito eficaz como filme de horror, acho um filme bem angustiante =)


ABS!

Cristiane Costa disse...

Oi Elton,
Tudo bem?

Excelente resenha. Gostei do seu texto e seus argumentos para "detonar" o filme, rs!

Eu não o assisti, acredita? Pois é, falaram tanto que ele é superestimado que eu desanimei total, além de não ser uma adepta fiel a filmes de terror.

Eu penso que a idéia de usar uma técnica caseira, bem câmera da mal, explorando já o mais que clicherizado espírito demoníaco que atormenta o ambiente familiar é totalmente descartável se isso não for muito bem roteirizado com um diferencial para o gênero, no enredo, nos enfoques de cena, no elenco... enfim, eu prefiro um Sam Reimi filmando um filme trash cômico, soa-me bem mais autêntico como cinema de verdade.

bjs