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8 de set. de 2010

Fúria de Titãs


Não precisa assistir ao original de 1981, nem pedir a um amigo que já tenha assistido a nova versão de “Fúria de Titãs” para lhe contar os melhores momentos do filme e como termina a história; basta o espectador assistir aos 5 primeiros minutos da fita e ele já estará informado suficientemente sobre a trama que se arrasta por 100 minutos e, pior, sobre seu desfecho pouco inspirado. E se o corajoso indivíduo tiver paciência e ficar curioso para assistir aos “melhores momentos” do remake, já adianto: são poucas e relativas as cenas realmente proveitosas. Totalmente prejudicado pelas entregas gratuitas do roteiro denunciador e pela aparente falta de comprometimento do diretor francês Louis Leterrier – que dirigiu recentemente o mediano “O Incrível Hulk” –, o primeiro ato de “Fúria de Titãs” não faz cerimônias ao revelar praticamente todas as adversidades que o jovem Perseus terá de enfrentar para vingar a morte de sua família, culminando no tão esgotado assunto do confronto final entre o semideus e o Kraken, um monstro gigantesco mantido em um mundo subterrâneo. Dessa maneira, o espectador já está condicionado a conferir uma série de combates entre humanos e criaturas ameaçadoras, e nada de especial ou de inovador irá surgir no meio do caminho, incluindo nesse pacote de “spoilers” o terceiro ato, cuja conclusão já é anunciada logo no início do filme. Assistir a “Fúria de Titãs” é basicamente como assistir “O Sexto Sentido” já sabendo do paradeiro do personagem interpretado por Bruce Willis.

Escrito a seis mãos, sendo alguns dos roteiristas responsáveis pelas bobagens “O Terno de Dois Milhões de Dólares” e “Aeon Flux”, a nova versão de “Fúria de Titãs” difere do enredo do filme original dos anos 80. Ao acompanhar o assassinato de sua família pelas mãos do deus Hades (Fiennes), o jovem pescador Perseu (Worthington) estaciona na cidade de Argos em busca de vingança e lá é apontado como o filho bastardo de Zeus (Neeson), o deus máximo do Olimpo. Em uma sociedade descrente e revoltosa com os deuses, intencionando levantar a “Era dos Homens”, os gregos declaram guerra aos líderes divinos, e Perseu, aproveitando a jornada para se vingar de Hades, acaba assumindo o posto de líder dos soldados rumo à batalha. Durante a odisséia, os combatentes irão se deparar com caranguejos gigantes, com os encantamentos da górgona Medusa e com o temido Kraken.

Estabelecendo as sequências do filme com a lógica de um jogo de videogame – a cada vilão derrotado, aparece um mais temeroso até alcançar o “chefão” – a linearidade de “Fúria de Titãs” acaba limitando a possibilidade de o roteiro episódico inovar com a inclusão de flashbacks que possam esclarecer, por exemplo, a origem ou dimensão de perigo natural de cada inimigo que o exército grego enfrentará. Todas as informações que podemos capturar são de conhecimentos básicos e citações dos próprios soldados, o que naturalmente limita a percepção do espectador quanto ao grau de desafio e esforços exigidos de cada um em situações isoladas. Os confrontos, apesar de bem ensaiados e amparados por efeitos visuais de ponta, são simplesmente vomitados no decorrer do filme, que evita a chance de criar tensão em cenas que imploram por uma apresentação mais elaborada antes de qualquer batalha. Há alguns momentos que podem ser considerados bem sucedidos nesse sentido, como a apresentação dos belos cavalos voadores ou a cena com as bruxas, que antecipa a luta contra a temível Medusa. Mas até mesmo o clímax de “Fúria de Titãs” é completamente desperdiçado pelo diretor, que se mostra terrivelmente despreparado para encarar um filme que demandava uma atmosfera com mais emoção e aventura.

Até agora dedicando seus dotes como diretor exclusivamente em filmes de ação, como os dois primeiros capítulos da trilogia “Carga Explosiva” e o envolvente “Cão de Briga”, o francês Louis Leterrier também falha ao abordar a “administração” no Monte Olimpo, retratando Zeus como uma figura totalmente sem autoridade e desinteressante, ao passo que seu irmão, Poseidon (Huston), um dos três integrantes que destruíram os Titãs do título, entra muda e sai calado, assim como os demais olimpianos da mitologia grega. Junto a uma trilha sonora deselegante e deslocada, Leterrier praticamente assume a falta de dinamismo e conexão entre as cenas de “Fúria de Titãs”, apelando sempre para travellings e cortes panorâmicos de imagens paradisíacas para, assim, mudar o núcleo de personagens que pretendia retratar a partir de então. E se o espectador louva a Zeus que seu filho bastardo não se interesse pela princesa Andrômeda (Davalos) como no original de 81, o roteiro e o diretor fazem questão de incluir uma semideusa diretamente da capa da Vogue, Io (Arterton), para ser a guardiã do protagonista, o que não precisa ser um gênio para desconfiar o que vai surgir dessa parceria.



Esbanjando mais um show de inexpressividade como nos filmes anteriores que atuara – exceto quando era um Na’vi e habitava Pandora –, é preocupante a falta de carisma provavelmente natural do britânico Sam Worthington, que aparenta apatia crônica para liderar um time de guerreiros e para protagonizar um filme em que o espectador, ao menos, deve criar laços com o personagem central. Liam Neeson faz o possível para que o seu Zeus, completamente zoado pelo roteiro, seja agradável, ao passo que Ralph Fiennes fisicamente parece primo do John Travolta naquela desgraça “A Reconquista”; aqui, ele interpreta Hades, que fora absurdamente retratado como o vilão do filme, em uma visão deturpada, maniqueísta e reprovável do mito grego. Se os destaques para o elenco são quase inexistentes – a despeito do original, em que víamos shows de vários atores respeitados – os efeitos visuais é um ponto de concordância entre todos quanto à qualidade dos técnicos desse departamento – idem o original, liderado pelo lendário Ray Harryhausen.

Nem vou entrar no mérito de discutir a sacanagem que foi o lançamento do filme em cópias 3D simplesmente para arrecadar alguns a mais na bilheteria, mas fato é que “Fúria de Titãs” em terceira dimensão ou não, merece ser mais um desses remakes que devem ir para o limbo e se perderem no tempo. Se Zeus quiser.


NOTA: 3,5


FÚRIA DE TITÃS (Clash of the Titans) EUA, 2010
Direção: Louis Leterrier
Roteiro: Travis Beacham, Phil Hay e Matt Manfredi
Elenco: Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes, Gemma Arterton, Mads Mikkelsen e Alexa Davalos

14 comentários:

Reinaldo Glioche disse...

Esse eu ainda não vi. Apesar da bela crítica e da sempre oportuna contextualização, você é mais um a chover no molhado em relação a este filme. Será que alguém gostou?
abs

Gui Barreto disse...

Oi,

Achei o filme um desperdício de investimento. Além de o roteiro ser pobre e previsivel, os efeitos são manjados, sem inovação...não recomendo!!!

Abrs Elton!

chuck large disse...

Este filme só assisto se me pagarem uma nota, caso contrário nem a pau. Só de ver a capa já me causa um certo desgosto.

abs.

pseudo-autor disse...

Fúria de Titãs foi a piada do ano. Só não foi pior do que o novo do Shyamalan e o Encontro Explosivo, com o Tom Cruise, porque era impossível: eles se esforçaram muito para serem ruins!

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com

Francisco Brito disse...

Não vi o filme,mas só pelo seu texto já percebo q mais uma vez a fascinante mitologia grega foi destroçada por um roteiro capenga.

Parabéns pela resenha,é sempre mt bom ver filmes ruins sendo detonados.

=P

Cristiano Contreiras disse...

Nem vi e tão cedo vou conferir, ainda que goste dos trabalhos de Neeson e Fiennes. Socorro!

Ah, ri muito com sua comparação do personagem de Fiennes com Travolta no A Reconquista, hauahaua!

abs

cleber eldridge disse...

Tom, tive a chance de conferir hoje o filme, que tem um show de efeitos visuais (pelo menos eu achei) mais é literalmente pouco inspirado, e um tanto curto, como você mesmo disse aquele desfecho foi muito apressado.

Wally disse...

Esse filme realmente é bem ruinzinho. Nem como simples entretenimento dá certo.

Cristiano Contreiras disse...

Morreu?!

Mayara Bastos disse...

A cada texto que leio sobre esse filme, mas estou adiando para assistir. Tadinho do Sam Worthington. rsrs.

Beijos! ;)

Rodrigo Mendes disse...

Caro Elton como vai? Eu sei que deve estar ocupado aí pq já fez um tempão que não atualiza o blogue. rs! Mas entendo..muito trabalho e tal..faculdade..enfim..tbm ando ausente como ouvinte no programa Cinema Falado. Pô preciso pagar esta dívida na sexta. Rs!

Bom, quanto ao filme. É um fiasco mesmo! Uma fita na onda do 3D que usa artifícios ridículos. Além do mais o roteiro não traz novidades e é uma salada irritante que nem se compara ao original. Pelo amor de deus mais que Medusa mais sem graça! O que Liam e Fiennes fazem aí? E o Worthington? Ninguém acerta, nem mesmo o Kraken que parece uma das criaturas do game 'Turok' para console do Nintendo 64!

É como falsificar uma pintura de Da Vinci no photoshop! Uma pena.

Abraços
Rodrigo

E...RISE colega. RS!

Guilherme Primo disse...

oi, tu podes me adicionar na tua lista de blogs? daí eu te adiciono na minha tmbm! abraço

www.cinelise.blogspot.com

chuck large disse...

Elton .... dá um sinal de vida, cara! pode ser até fumaça ... hehehehehe.

abs.

Elton Telles disse...

Reinaldo: boa pergunta, viu. Se até meu irmão, que é o maior adorador de empacotados hollywodianos, disse que o filme é uma porcaria rs, não espero muito que os outros vão gostar. Pois o filme é totalmente distorcido e bem chatinho, pouco empolgante. Promete, mas não cumpre...


E aí, Gui! Os efeitos eu até achei de ponta, talvez a melhor coisa do filme rs, mas o diretor realmente é limitadíssimo e isso já foi percebido em "O Incrível Hulk", né? O cara não tem mesmo o que acrescentar.


Hahaha Alan, a semi-torutra não vale o preço que te oferecerem rs. Abstenha-se! E a capa já é um spoiler, dica.


Pseudo-Autor: cara, ainda não confeiro o ultimo Shyamalan, nem a parceria de Cruise com Diaz (e não faço muita questão de nenhum destes rs), mas "Fúria" pode ser facilmente enquadrado, sim, como a piada do ano. Não por mim, porque vi vários outros filmes piores, que, perto destes, "Fúria de Titãs" se torna uma sessão das mais prazerosas rs.


Valeu, Chico! o/
melhor que elogiar, é falar mal. Isso é consenso xD


Cris: Neeson e Fiennes não compensam porque pouco aparecem e quando o fazem, não vale a pena mesmo. Agora para quem gosta da cara de bunda do Sam Worthington, é um prato cheeeio! =)


Pois é, Cleber, a pouca duração tambem interferiu bastante para a decepção que foi o filme. Reitero a qualidades dos efeitos e realmente o filme é pouco inspirado, mas até diverte em algumas cenazinhas.


Concordo, Wally.


Mayara, só pra você ver como o filme foi avaliado pelos blogueiros rs. Não é um desastre, tiveram muitos filmes piores, mas é ruim por não cumprir aquilo que prometeu. É chato, apático...


Rodrigo, bem lembrado! Nem mesmo o Kraken se salva e sua aparição é muito rápida e pouco aproveitada. filme bem mal realizado mesmo! E valeu pelo carinho em relação ao CF. Todo final de mês vou colocar a relação de programas com o link para download =D


ABS A TODOS!